O Diretor Sérgio Carneiro, da DIRSAT, é um cosplay de intelectual progressista mas seu discurso é vazio de conteúdo e representa um verdadeiro estelionato intelectual.
Passa a vida pregando contra o "biopoder médico", o "modelo medicocêntrico", como reza a cartilha do marxismo cultural da Escola de Frankfurt, criadora da teoria progressista: combate aos valores e culturas e rotinas do mundo ocidental capitalista.
Militante do PT de longa data, teve a oportunidade em 2004 de implementar suas idéias libertadoras na prefeitura de São Paulo: Livrou os professores da opressão da perícia médica, permitindo o modelo "automático" de reconhecimento de incapacidade sob algumas condicionantes. O resultado foi catastrófico: o número de afastamentos de professores na rede municipal de SP aumentou mais de 1000% em um ano, colapsou o ensino municipal em 2004 e foi em parte responsável pela derrota da então prefeita Marta Suplicy naquele ano. (
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O fracasso não o fez desistir de suas idéias românticas e progressistas. Porém nem todo romantismo foi suficiente para amenizar a arrogância típica de um pensador pobre de idéias. No curso de formação de peritos em 2006 não quis se "misturar" aos colegas médicos pois "só estava lá por obrigação" e ficou no canto da sala. Claro, sabia que não ia precisar periciar ninguém. Imediatamente alçado ao MPOG após assumir, ficou 7 anos elaborando o SIASS, cujo principal objetivo era reduzir os afastamentos de servidores públicos federais. Sobre o SIASS essa matéria resume bem o que ele tentou criar (
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Chamado por Gabas ao INSS para construir um novo modelo que deixasse a previdência "livre da dependência dos médicos", Carneiro fracassou fragorosamente. Nenhum modelo tentado saiu do papel, tudo deu errado, até oposição da CUT e da FUNDACENTRO ele conseguiu.
O modelo atual que ele construiu, uma colcha de retalhos de modelos europeus, é incompleto, inseguro, restritor de direitos, confuso, incoerente, conflitante em si, vazio de conteúdo e sem a presença dos outros atores necessários ao seu funcionamento mas encapado com um belo discurso filosófico e bonito de estética.
Basicamente o médico atua na entrada do segurado no sistema e na saída dele do sistema, justamente as áreas mais críticas, e no meio do caminho o cidadão conseguirá prorrogações automáticas de benefícios por até 180 dias.
Esse modelo não vai desafogar a fila, vai piorá-la, pois agora teremos muito mais pedidos de prorrogação estimulados pela ausência de perícia, ou será que o intelectual acha que as taxas de pedidos de prorrogação de perícia permanecerão as mesmas?
E que diabos de modelo "multiprofissional" é esse que basicamente depende do médico para tudo, pois seria o perito a fazer a entrada e saída e o médico assistente a dar os atestados para prorrogação automática. Onde está a multiprofissionalização da perícia aqui??
Existe embutida também a presumida ideia de que haveria "redução" da necessidade dos Médicos Peritos e lhes restaria mais tempo para... para... para outras atividades da carreira como visitar empresas, entre outras idéias, num romantismo utópico invejável digno de um livro.
Esse modelo é romântico porque é baseado na preposição de boa-fé dos envolvidos (sequer se sabe quais serão os mecanismos anti-fraudes para a epidemia de atestados médicos falsos), na despreocupação com gastos financeiros e na facilidade de obtenção de novos recursos humanos. É solução tão perfeita e mágica, que seria uma maldade criticar e não se deixar levar. (Infelizmente, nós, do blog, não vamos)
Esses intelectuais progressistas sofrem do mesmo mal: a incoerência. Na hora de considerar o direito de minorias, batem no peito e invocam a necessidade de se respeitar as diferenças, "tratar desigualmente os desiguais". Mas na hora que isso não interessa, criticam os médicos, por exemplo, por não quererem ser "iguais" aos outros. E pior, na hora do trabalho, cobram dos médicos todo o esforço que eles progressistas não querem e não conseguem fazer por outra via.
A incoerência existe pois o marxista cultural não precisa de lógica, precisa apenas de retórica e canhões contra o "modelo ocidental padrão". Não precisa de propostas, apenas bater nos outros. Para isso vale bandeiras tão distintas e não-misturáveis quanto a defesa dos gays e a do islamismo, por exemplo, apenas para ficar em causas recentes na mídia.
Por fim, não é um modelo novo teórico biopsicossocial romântico quem vai salvar ou melhorar a Perícia Médica. É, antes de tudo, vontade política, gestão administrativa e investimento. No INSS se encontram problemas profundos enraizados e criados por pessoas que estão há mais de décadas no poder interno ganhando prêmios de gestão. Muita conversa, muita viagem, muita foto, muita promessa de melhorias na proporção inversa dos resultados.
No meio de tanto deserto de idéias, o discurso de Carneiro é apenas mais um grão infértil a decorar o ambiente. Um estelionato intelectual.