Nesse mundo multicultural politicamente correto, as pessoas que se identificam com as diretrizes que permeiam essa ideologia, às vezes chamadas de esquerdistas mas na verdade são progressistas (não é a mesma coisa), possuem bem definidas em suas cabeças as situações nas quais devem se posicionar a favor e contra.
Porém com a expansão dos conceitos de minorias e de deveres sociais, quem é progressista muitas vezes acaba sendo colocado diante de verdadeiros dilemas sociais na qual duas pessoas classificadas como "minorias" se defrontam em um antagonismo típico do clássico "burguês x proletariado" onde é fácil para esse grupo se posicionar.
O choque em ver uma minoria atuando de maneira "opressora e dominante" sobre outra minoria, embaralhando os conceitos arraigados do multiculturalismo vigente, normalmente deixa os progressistas em estado de choque ao ponto de ficarem mudos, sem responder aos questionamentos, como no caso do jovem negro pobre e homossexual que virou prioridade do governo quando a suspeita era de homicídio mas foi relegado ao esquecimento quando descobriram ser suicídio (clique aqui). Ou então leva à omissão de dados, como no recente caso envolvendo a torcida do Grêmio no jogo contra o Santos.
A burguesinha branca de cabelos claros identificada foi condenada à morte pela sociedade "justa" e "igualitária", por ter feito uma ofensa de cunho racista no alambrado de um estádio de futebol. Por conta disso teve a casa apedrejada e se mudou as pressas de Porto Alegre e está condenada para sempre por ter sido filmada. Se ela andasse na rua de sua casa com certeza seria espancada até a morte. Quem tem ódio mesmo?
Longe de querer defender ou justificar a idiotice da torcedora, mas torcedores negros e mulatos do Grêmio flagrados no mesmo ato de xingamento foram "poupados" de críticas, apesar de terem sido identificados e até mesmo expulsos do estádio pelo clube, por terem feito o mesmo xingamento ao goleiro santista. Difícil acusar um negro de ser racista contra outro negro? A solução é omitir e paulada na branquela atrevida.
Na era onde "o correto é tratar desigual os desiguais" e onde a opinião diferente, mesmo infame, é tratada com apedrejamento público e incitação à violência, por muitas vezes fica complicado definir quem é mais desigual do que outro quando o clássico vilão (homem branco trabalhador com dinheiro, dono de propriedade, cristão/judeu, adulto) não está em um dos lados da equação a ser analisada.
Imaginem o drama dos progressistas quando, por exemplo, recebem a notícia de quem uma pessoa favelada, negra e sem ensino fundamental é flagrada ofendendo com dizeres homofóbicos uma transsexual que passava na rua onde ele, negro e excluído, pedia esmola. A quem condenar? Quem tem razão? E se o transsexual proferisse ofensas raciais e sócio-discriminatórias ao pedinte? Quem teria razão? Como se posicionar? A quem os progressistas devem apoiar?
Vejamos essa foto abaixo:
Vemos homens vestidos segundo os princípios do grupo racista Ku Klux Klan cercando homens mulatos e negros algemados no meio da floresta. Aqui é moleza se posicionar. Uma foto dessas seria capa da TIME, do NYT, da FSP e com certeza levaria o prêmio Pulitizer do ano, auferindo lucros e fama ao fotógrafo, que passaria a frequentar eventos da alta sociedade, colunas sociais e festinhas hypes para dar um verniz "humano" aos eventos.
Só que não, a foto acima é uma montagem grosseria. A verdadeira foto está abaixo:
Agora a coisa complicou. Sâo índios que por conta própria agrediram e prenderam trabalhadores negros e mulatos, acusados de roubarem madeira de suas terras. Como se posicionar? A quem devo prestar apoio? A quem Caetano e Gil devem fazer cartas abertas de solidariedade? Para qual grupo Maria do Rosário, Juca Kfouri, Kennedy Alencar, Mino Carta, Ideli Salvatti, Alberto Dines, Gilberto Dimenstein, PHA, Guilherme Boulos, Nelson de Sá e toda a burguesia "24/7", dentre outros, irá escrever artigos, depoimentos e livros?
O mundo mudou e não dá mais para dividi-lo entre burgueses e trabalhadores, se "aliar" aos trabalhadores para oprimir a democracia (mas governar apoiando o lucro dos burgueses para receber seu quinhão) escolhendo um determinado segmento para oprimir e servir de bode expiatório e elemento de união das massas protegidas, como no passado recente fizeram o nazismo, o fascismo italiano, o getulismo, peronismo, etc.
A pós-modernidade com seu caráter multicultural, polifacetado, gera uma miríade de possibilidades de enfrentamentos que desafiam a lógica dos modernos pensadores e defensores de minorias e do Estado babá, muito além da velha relação patrão x empregado na qual foi construída a cultura progressista (se quiser me chamar de fascista, obrigado).
Urge, diante da necessidade de não incorrermos em injustiças sociais, elaborar uma escala de desigualdade social. Entre tantas minorias (que somadas já passam em muito a "maioria"), entre tantos "desiguais" a serem tratados "desigualmente" e amparados pelo Estado Babá (ou fascista, conforme queiram) comandado pelo "Grande Tutor" (ou ditador, conforme queiram), é necessário uma escala, uma pedra da roseta, para sabermos diante de conflitos assim, quem merecerá nosso apoio e quem deverá ser condenado e perseguido.
O que vale mais em termos de desigualdade? Estar em situação de rua ou ser mulher solteira com filhos? Ser homosseuxal ou negro? Depender de ônibus ou andar de bike? Ser índio ou portador de deficiência grave?
Taí um bom trabalho para a Secretaria de Direitos Humanos - SDH. Melhor fazer isso que contratar ONG fantasma para fazer pseudociência com tabelas de deficiência que no fim serão ajustadas pela turma da fazenda para diminuir o enquadramento que geraria o maior gasto financeiro.
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