Um raro evento ocorreu ontem no Congresso Nacional. Após a relatoria da MPV 632 descartar por consenso de mesa a emenda 003, das 30h dos peritos, a bancada do PMDB se uniu, peitou o governo e exigiu a aprovação da emenda sob pena de paralisar os trabalhos da Comissão Mista.
O PT, liderado pelo Senador Pimentel e tendo Gabas como apoio, nada puderam fazer a não ser ver a emenda ser aprovada na relatoria após a exposição de motivos dos peemedebistas, que se utilizaram de dados deste blog como o exonerômetro, as denúncias contra Gabas e a convocação de greve para 2015.
Como pode uma situação aparentemente simples se estressar ao ponto de dois partidos da base aliada baterem peito em uma reunião que deveria ser de consenso?
A explicação está na inabilidade política de Carlos Eduardo Gabas. Ungido a superintendente paulista, depois Secretário-Executivo e depois Ministro de Estado, pelas graças e amizades do grupo do Berzoini e outros amigos conquistados no PT, Gabas subitamente achou que podia mais e abandonou os amigos que o levaram a Brasília.
Inábil, não soube manter as pontes que o fizeram o "gestor" do INSS e apostou alto, muito alto, em lances arriscados que acabaram comprometendo sua imagem perante colegas de partido e o deixaram excessivamente visado. Passou a não atender telefonemas, isolar aliados, fritar possíveis rivais e se achar mais real que a realeza.
Gabas não se lançou ao debate democrático e à mesa de negociações com abertura de palavras e oportunidades com os servidores, quis mostrar uma imagem de durão junto aos mandatários de ocasião às custas do sacrifício dos servidores do INSS, peritos e administrativos. É fato: basta olhar como andou a curva de crescimento dessas carreiras depois que Gabas atingiu o topo e veremos que uma enorme curva negativa se formou com a ascensão do araçatubense. A postura de Gabas, aliás, vai contra o histórico de seu próprio partido, que sempre internamente favoreceu às negociações coletivas e ao diálogo, pelo menos quando fazia oposição.
Hoje, os peritos tem uma carreira congelada, estancada, com mais de 2200 exonerações em 4 anos, descolada dos seus pares auditores. Os administrativos possuem uma carreira cujo 80% do salário é de penduricalho e gratificações que não serão incorporadas à aposentadoria, condenando-os a ter que procurar outro trabalho quando se aposentarem.
Excesso de tapinha nas costas e pouca resolutividade, essas são as marcas de Gabas no poder. Tudo sustentado por uma aura de bom gestor, que veio de baixo, dando duro e conquistou o céu, imagem essa desfeita após as revelações por este blog das inúmeras denúncias de improbidade envolvendo seu nome, de auxílio-moradia irregular a ganho extra-teto, nepotismo e vários outros.
Ao se negar a sentar e conversar e ao achar que poderia praticar políticas persecutórias e sectárias para se manter no poder, Gabas se negou a cumprir seu papel de gestor, político, negociador e estabilizador do sistema. Era para ser "algodão entre cristais", mas Gabas virou uma "bazuca entre porcelanas" e estourou todo o INSS.
De repente, oprimir a perícia passou a ser uma espécie de bote de salvação de seu mandato, como uma caça de cabeças para presentear o Rei, ou no caso a Rainha. Igual postura foi adotada com os administrativos, impressados entre a GDASS e o Turno Estendido com suas metas impossíveis.
O veto de 2010, fortemente influenciado por ele, causou grande dano à campanha de Dilma, ao ponto do próprio presidente Lula interferir diretamente e depois manifestar sua mágoa com os peritos, sem entender o que tinha acontecido. Agora, 4 anos depois, mais 4 anos apanhando e sendo sufocada, a categoria se vê diante de um tronco no meio do riacho.
O que faz Gabas? Após claramente faltar com a sinceridade ao prometer mundos e fundos se determinada chapa da ANMP ganhasse, iniciou nova guerra contra os peritos e conseguiu derrubar a emenda das 30h. Sem conversar, sem propor nada exceto um efêmero e estéril GT, Gabas achou que a guerra estava ganha.
Nada disso. Os peritos se uniram, esqueceram rixas temporariamente e cada um com sua arma, foi ao Congresso lutar. Também cansados de serem ignorados por Gabas, alguns deputados e senadores decidiram se unir à nossa luta, questionaram o veto e recolocaram as 30h em pauta. A vitória parcial mostra ao mesmo tempo a perda da influência de Gabas e ao que leva a falta de diálogo e à postura sempre sectária e anti-servidor. Nem os seus protegidos o estão mais, estamos vendo aliados de Gabas sendo despejados da noite para o dia com uma mão na frente e outra atrás sem que ele mova uma palha por eles.
A inabilidade e a truculência de Gabas vão custar caro à Presidente Dilma, pois agora uma bomba cairá sobre seu colo. Caberá a ela decidir ou não ratificar essa conquista da categoria. Todo o ônus e bônus dessa decisão cairá sobre sua campanha eleitoral, que já está fragilizada e longe da pujança de 2010.
O cenário é diferente e peitar a categoria vetando as 30h será um passo muito arriscado e com alto teor explosivo cujo qual só está nas mãos da Presidente pois seu capataz junto ao INSS está politicamente morto e resiste apenas com atos de brutalidade institucional.
Resta à Presidente escolher entre se alinhar ao comissário "marajá" e encarar a revolta raivosa da categoria ou se afastar desse modelo de (indi)gestão, conceder as 30h conquistadas legitimamente pela categoria e começar a diminuir os focos de forte tensão que marcam a era "Gabas" no INSS.
Um comentário:
Tem prazo para ela assinar? se não tiver, ela vai mandar para depois das eleições.
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