quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ORA, TODO MUNDO QUER "MAIS MÉDICOS"!! PORÉM O "MAIS" ESCONDE UM MONTE DE "MENOS".

Não consigo me sentir surpresa com a aceitação do programa do governo que se “auto-avalia” por meio de pesquisas de opinião pública. Ora, quem em sã consciência, maltratado pelas filas no SUS, haveria de não querer mais médicos ? Não foram anos e anos canalizando todos os males do sistema para culpar o médico pelo serviço de saúde insuficiente, deficiente, ineficiente decorrente na verdade da má gestão pública? Não é de um dia para o outro que um cidadão se atira, sem pudores, no colo de um médico “estranho” à sua comunidade, bairro, cidade, estado, país...Isto demanda anos de desconstrução da imagem dos profissionais médicos. E isto, sem dúvida, foi feito com maestria pelo governo do PT !

Nada mais natural que ao ser entrevistado este cidadão responda que quer mais médicos, sim. E por que não “do exterior” já que os do Brasil são tão “frios e só querem ganhar dinheiro” ? Aliás se é “importado” é porque não é “fabricado” aqui e deve servir...Com a mesma lógica também responderia que quer mais casas, mais conforto...Responderia, por óbvio que quer menos horas de trabalho. Ou não ? Se menos horas de trabalho significar menos salário e só se descobrir depois, ahhh !! isso é outra conversa... A questão é que ao se perguntar o que as pessoas querem MAIS ou MENOS as respostas são simples. Poucos são os que desconfiam da ingênua alcunha do programa do governo que tapou com a peneira da palavra MAIS uma miríade de menos. Menos qualidade, menos assistência, menos diagnósticos, menos exames complementares, menos honestidade, menos probidade, menos eficiência, menos efetividade, dentre outros.
Não é de um dia para o outro que um cidadão se atira, sem pudores, no colo de um médico “estranho” à sua comunidade, bairro, cidade, estado, país...Isto demanda anos de desconstrução da imagem dos profissionais médicos. E isto, sem dúvida, foi feito com maestria pelo governo do PT.

Nada, absolutamente nada, mudou ou mudará para melhor na saúde pública de nosso país com este “baile de máscaras” que é pincelar o Brasil com médicos, cubanos ou não, para poder dizer a palavra MAIS. Trazer 10 médicos seria MAIS também. Fazendo uma analogia: quando atiram comida de avião em cima de certos países conturbados da África poderiam chamar de “Programa Menos Fome” ou “Mais comida” ? Pois é...Tudo depende de honestidade política, seja ela no nível em que for. Os problemas crônicos do SUS foram empurrados, novamente, com a pesada, gorda e bem brasileira barriga da desonestidade politiqueira de um governo que, com vários mandatos, poderia ter deixado um legado muito diferente, mas assim não o quis.
A questão é que ao se perguntar o que as pessoas querem MAIS ou MENOS as respostas são simples. Poucos são os que desconfiam da ingênua alcunha do programa do governo que tapou com a peneira da palavra MAIS uma infinidade de menos.


A imagem da classe médica que em qualquer país civilizado é tratada com seriedade vem sendo enlameada constantemente, por quem deveria preservá-la. Ou um governo deveria se orgulhar de ter um sistema de saúde péssimo e com péssimos profissionais? A população de um país merece um governo minimamente capaz e probo, se empenhando em assegurar que os profissionais que prestam os serviços públicos (principalmente os de saúde, sempre tão solicitados) exerçam suas atividades com todas as condições, apoio e dignidade. Isto se chama respeito. Engana-se quem pensa que se trata de respeito aos médicos. Também, mas em primeiro lugar à população que os procura.

Acredito que é um equívoco os médicos brasileiros, assim como as entidades que os representam, focarem como alvos a combater os médicos que foram trazidos do exterior ou a parcela dos cidadãos que diz sim aos mesmos. Há inúmeras manipulações, motivos - ou ambos - para que estes fatos ocorram. Não sejamos ingênuos: saúde pública e ideologia são indissociáveis no mundo moderno. Ocorre que, na balança do Programa Mais Médicos, a bandeja do lado da Ideologia catapultou o pequenino peso, esquecido, no lado da Saúde. Isto tudo sem debate amplo e aberto sobre o Programa, antes de sua açodada implementação. Atitude que revela prática autoritária e não democrática.

A população de um país merece um governo minimamente capaz e probo, se empenhando em assegurar que os profissionais que prestam os serviços públicos (principalmente os de saúde, sempre tão solicitados) exerçam suas atividades com todas as condições, apoio e dignidade. Isto se chama respeito. Engana-se quem pensa que se trata de respeito aos médicos. Também, mas em primeiro lugar à população que os procura.


Está errado e o que está errado deve ser levado ao conhecimento do público para que, aos poucos, haja contraponto e esclarecimento. No entanto, existe diferença entre erro e mal. E há, nesta situação que estamos vivenciando, muitos indícios de mal. Mal arquitetado estrategicamente por governantes com motivos alheios a melhorias da qualidade do atendimento de saúde no Brasil. A questão é ancestral: sede insaciável de poder eterno. E, contra este mal sim, a classe médica brasileira deveria mirar seus mais potentes arsenais.

Para finalizar, a livre tradução de um texto que trata sobre o tema do MAL:

“O grande mal não se concretiza mais naqueles sórdidos “covis do crime” que Dickens adorava retratar. Nem, tampouco, em campos de concentração ou campos de trabalho. Lugares onde vemos seu resultado final. Hoje é concebido e ordenado (movido, acordado, tramitado, minutado) em salas limpas acarpetadas, bem iluminadas e climatizadas, por homens quietos com colarinhos brancos e unhas aparadas e barbas bem feitas que não necessitam elevar seu tom de voz.”
“The greatest evil is not now done in those sordid “dens of crime” that Dickens loved to paint. It is not done even in concentration camps and labor camps. In those we see its final result. But it is conceived and ordered (moved, seconded, carried, and minuted) in clean, carpeted, warmed, and well-lighted offices, by quiet men with white collars and cut fingernails and smooth-shaven cheeks who do not need to raise their voices” C. S. Lewis, Preface to The Screwtape Letters (1961)

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