segunda-feira, 21 de outubro de 2013

AFASTA DE MIM ESSE "CALE-SE".

O assunto é off-topic mas não resisto em comentar: A polêmica das biografias no Brasil chega a ser ridícula. Somos a única nação dita livre que permite legalmente censurar biógrafos de acordo com a vontade do "dia" do biografado. Como no caso dos que se aventuraram a biografar Caetano Veloso, gastando anos de pesquisa com apoio do próprio para no fim ele "mudar de idéia" e todo o trabalho ir pro lixo.

Biografia somente com chancela do biografado não é biografia, é press-release, apêndice da assessoria de comunicação do escritório da personalidade, é propaganda letrada, qualquer coisa menos biografia. Biografia "chapa-branca".

Nos outros países ditos civilizados as biografias são livres, o processo judicial por calúnia também. É um jogo calculado. Pessoas públicas tem biografias não-autorizadas publicadas o tempo todo. As mais espertas aproveitam a onda e lançam por cima uma biografia autorizada, "mais completa", e vendem os burros, como o caso mais recente de Steve Jobs.

O que tá por trás desse movimento dos cantores são duas situações: Uma pragmática, pois em troca do apoio de Roberto Carlos à uma legislação mais rigorosa quanto à arrecadação de direitos autorais pelo Ecad, os outros cantores se submeteram a um capricho pessoal do "Rei", que era a adesão à questão da proibição de biografias. Roberto Carlos tem isso muito caro a si, por motivos insondáveis, e acabou arrastando outros cantores que não imaginaram o tamanho do impacto negativo que isso teria na mídia.

A outra situação, e que explica a primeira, é simples: Dinheiro. Em 1960/70, quando ainda estavam construindo uma carreira, um patrimônio e uma imagem, nada poderia atrapalhar. Então valia o discurso do "é proibido proibir", "afasta de mim esse cálice". Agora que estão com a vida feita, carreira e patrimônio consolidados e uma imagem que vale milhões, a situação mudou e o espírito libertário de antigamente não é mais tão conveniente.

Porém erraram na medida e suas tentativas de censurar a literatura brasileira acabaram por produzir um rombo em seu maior patrimônio: suas imagens. Estamos vendo nas últimas 72h um corre-corre de um atirando em outro. Caetano já insinuou que Chico queria mais que o Rei a proibição das biografias, Gilberto Gil se esconde, Marisa Monte finge que não é com ela...

O fato é um só: Por trás desses discursos libertadores, progressistas, só há um motivador: grana. Porém quando o progressismo ameaça fazer alguém faturar sem você levar um troco, ai rapidamente a censura aparece como algo justificável e plausível. Mais ou menos como defender a liberdade e ao mesmo tempo o regime cubano: São coisas incompatíveis, mas nada que a cara-de-pau não resolva.

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