Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos da América, a simulação de doença para obtenção de vantagens (sem tradução ideal chamada Malingering) é e continua sendo estudada cientificamente. Reconhecem os profissionais psiquiatras que até 33% dos pedidos de incapacidade sejam simulações. Isso não é novidade para muitos Peritos Médicos do INSS estudiosos. Não seria de espantar que num país onde habitualmente não se teme a autoridade pública ou a lei, traduza-se Brasil, e praticamente não haja punição para este tipo de crime, o número possa facilmente dobrar para 66%.
Leiam com atenção o quadro abaixo elaborado e apresentado num estudo científico publicado em 2006. Nele se lê sobre os fatores que sugerem simulação na Avaliação Médica, no caso psiquiátrica. Observem leitores que a presença de problemas sociais fortemente sugere a "anomalia" comportamental. Incentivo financeiro, solução de problemas socioeconômicos, comportamentos/atos anti-sociais, insatisfação com a carreira, conflitos com empregador, busca pela aposentadoria (sem ter condições administrativas) parecem ser algumas das razões escondidas. Por fim, os problemas PsicoSociais seriam os maiores estimulantes para se tentar enganar, ludibriar, lograr, fraudar a Perícia Médica e, assim, a própria Previdência Social.
Quer dizer que nos Estados Unidos, os fatores PsicoSociais são usados para diagnóstico de simulação, mas no Brasil, O INSS entende que os mesmos devem ser usados para aumentar a concessão de benefícios e diminuir os conflitos? Quer dizer que quanto mais psicossocial por aqui, provavelmente, mais chance de deferimento, e por lá (EUA) mais chance de indeferimento? Implanto nos leitores a semente da dúvida questionando se, de fato, a expansão da visão psicossocial não surtiria um efeito contrário ao esperado por Carneiro.
Como assim?
Suponhamos que, nos meios de hoje, um Perito Médico, limitado ao consultório na APS e sua própria opinião médico-cêntrica, seja incapaz de perceber uma realidade PsicoSocial escondida, por razões obvias, mas que a partir de 2014, ele possa tomar conhecimento sobre: ganhos secundários (seguros de invalidez), atividades informais, incompatibilidade do padrão de renda, conflitos com empregador, realização de cursos e faculdade durante o benefício, necessidade de pagar dívidas e mesmo processos judiciais, quem garante que um modelo mais aprofundado "melhoraria" (leia-se aumente a cessão) ou "humanizaria" (leia-se, de novo, aumente a cessão) das Perícias Médicas do INSS? O Carneiro teórico que quase não fez Perícias...?
Ora, meus prezados, vários benefícios por incapacidade, são deferidos exatamente porque o perito é incapaz de adentrar no "PsicoSocial" do segurado. Sim, suspeito que as atuais avaliações superficiais e rápidas e "biológicas", tão criticadas, no fundo possam estar, na verdade, ajudando a manter o ciclo vicioso de dezenas de milhares de benefícios indevidos e que o aprofundamento nas avaliações possa gerar uma crise existencial no seu próprio Novo Modelo. Será que a Sociedade tem certeza que é melhor o Perito Médico considerar o Social no julgamento (já que ele também pode ser usado contra o segurado conforme a própria ciência o diz)? Temo que Carneiro, não conte com um grande efeito colateral do seu modelo; e crie mais conflito, mais indeferimentos; e piore ainda mais o Sistema que pensa estar "consertando".
2 comentários:
A melhor avaliação psico-social é o serviço de investigação externa, sobre atividades sociais, laborais secundárias etc, para ytodos com auxílio-doença maior que 12 meses.
Exatamente. Este é grande ponto.
Avaliação Psicossocial é uma pesquisa externa.
Que pode ser usada para melhorar a visão sobre a incapacidade. Mas também pode ser usada para desmascarar realidades. Levanto a idéia de que desmascará mais que acobertará. Tive experiência em muitos setores do INSS e 90% que solicitei pesquisa externa havia fraude explicita. Isso pode ter um efeito de devastador em largas proporções.
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