Clique, clique clique...
“Só os profetas enxergam o óbvio”, já dizia Nelson Rodrigues. John Donne, poeta jacobino inglês do século XVI, era também um profeta. Ele enxergava o óbvio: “Ninguém é por si só uma ilha. Cada um é uma porção do continente, uma parte do oceano!”. Dizer isso hoje é fácil. Mas, naquela época sem iPhone, Tablet, 3G, internet, Facebook, etc. etc. só sendo profeta para enxergar o óbvio.
Steve Jobs era também um profeta. Profeta e revolucionário. E no dia 29 de junho de 2007, ele iniciou a sua revolução. Neste dia histórico, chegava ao mercado o iPhone, que foi ridicularizado inicialmente pelas concorrentes, em especial a Nokia, que na época liderava o mercado de telefonia celular. No primeiro final de semana, atingiu as vendas de 500 mil unidades, e só no ultimo trimestre de 2011, a Apple vendeu mais de 37 milhões deles... assim, “os telefones se transformaram em placas escuras touch screen parecidas com tijolos. E tudo mudou do dia para a noite”.
Arquimedes, matemático e inventor grego (200 a.C), foi também profético ao dizer: “Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio, e eu moverei o mundo!”. O iPhone, quem diria, está sendo a alavanca para a “geração Y” mudar o mundo...
Geração Y?! Sim, os nativos digitais - nascidos entre 1980 e 1999 - e que são chamados assim, graças à União Soviética que exercia uma influencia tão grande nos países comunistas, que chegava ao ponto de definir a primeira letra dos nomes, que deveriam ser dados aos bebês nascidos, neste período: “letra Y”. E se alguém tem dúvida do porquê do comunismo não ter vingado no mundo, talvez essa “importante” preocupação em definir essa letra, possa ser uma das causas...
Não era à toa que Demócrito, filósofo grego, ria e ria muito, afinal o mundo é uma grande ironia: a geração Y, assim chamada, graças ao comunismo, já nasce com um iPhone na mão... Então, não se espantem com a ambiguidade das suas decisões e escolhas. Por isso que Steve Jobs, profético e revolucionário, os estimulava: “sejam famintos, sejam tolos!”.
Fazendo várias atividades ao mesmo tempo, impacientes e vivendo a vida intensamente - afinal: “Deus vomitará os mornos!”-, eles sabem que na Internet não há fronteiras e não há manipulações. Assim, são sensíveis ao interesse corporativo; processam o mundo em tempo real e rápido, detestando esperar (pois “quem sabe faz a hora e não espera acontecer!”); são autônomos, não precisando de líderes (caçadores de marajá, Estrela-lá...) como muletas para tomarem as suas decisões; são curiosos e aplicam os seus conhecimentos para transformarem a realidade...
Realidade que num simples clique, muda! E se uma “tapinha” pode ainda não doer no nosso país... Na Tunísia, foi este o motivo para derrubar um dos regimes mais poderosos do Oriente Médio. O tapa na cara que Faida Hamdi (Oficial de inspeções municipais) deu em Mohamed Bouazizi (Vendedor de frutas), em 17/12/2010, promoveu efeitos em cascata, criando situações imprevisíveis. Manifestações começaram a pipocar na Tunísia. A polícia foi instigada a atirar neles. As imagens, apesar de só 20% dos tunisianos terem Facebook, foram transmitidas em tempo real. Clique, clique, clique e o Presidente Ben Ali teve que renunciar...
“Ninguém é por si só uma ilha”, não é mesmo?! Pois bem! Três dias depois da renúncia na Tunísia, começaram os protestos no Cairo, contra o ditador Hosni Mubarak. Este, resistiu por um mês e renunciou. O Tsunami parecia não ter mais fim no Oriente Médio. E a próxima “vítima” foi o ditador do Líbano, Muammar Kadhafi. E tudo começou com um simples tapinha... Neste caso, o tapinha doeu, e doeu muito!
Acabo de receber uma mensagem do meu ex-aluno e fiel amigo Bruno Pessoa, que se formou há 06 meses, e resolveu desenvolver um trabalho belíssimo numa comunidade indígena, no interior de Pernambuco: “A onda de protesto pelo país é um grito de socorro: só não sabemos muito bem contra o quê e contra quem. Isso só reflete o modo ambidestro de se fazer política hoje em dia. Não sabemos mais quem é esquerda ou direita. Antigos rivais estão no mesmo palanque. Partidos com ideologias completamente contrárias se coligam em busca do ‘bem maior do povo’, que não é a saúde, nem educação: é o voto! Não são os 20 centavos, não é Alckmin, nem muito menos Dilma. Está tudo errado: ou a gente luta por uma mudança radical, ou vamos continuar assistindo na míd ia comentaristas e políticos pegando o fio da meada para endossar a continuidade... e nós, ingênuos em questão de política ambidestra, continuaremos sem saber quem é do bem e quem é do mal...”.
O nosso país vive um momento extremamente delicado. E é muito bom que a nossa classe política - onde quase todos fedem a mofo e a corrupção-, perceba que não esta mais lidando com a geração coca-cola, onde o “pão e circo (ou copa)” ainda funcionam muito bem... É preciso enxergar que R$ 0,20 pode sim, ser entendido como um tapa na cara e aí salvem-se quem puder... E depois não venham se perguntar: “Por quem os sinos dobram?!”, Afinal, eles irão dobrar por todos nós...
Francisco Edilson Leite Pinto Junior– Professor, médico e escritor.
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