'Sensação de bem-estar no Brasil é fachada', diz 'FT' em editorial
DO "FINANCIAL TIMES"
DO "FINANCIAL TIMES"
Tradução de Paulo Migliacci
O jornal britânico "Financial Times" criticou o desempenho recente da economia brasileira em editorial publicado nesta segunda-feira.
No texto, a publicação diz que o modelo econômico baseado em consumo criado pelo ex-presidente Lula se exauriu e que a sensação de bem-estar do país não passa de uma fachada.
Leia a íntegra do texto abaixo:
*
O Brasil parece ter deixado a crise para trás. A estatal petroleira Petrobras na semana passada conseguiu realizar com sucesso uma emissão de títulos de dívida em valor de US$ 11 bilhões.
A oferta pública inicial de ações da subsidiária de seguros do Banco do Brasil, em valor de US$ 5,6 bilhões, continua a ser a maior do ano. Na semana passada, empresas de petróleo pagaram US$ 1,4 bilhão em um leilão de licenças de exploração.
O diplomata Roberto Azevêdo, do Itamaraty, acaba de ser escolhido como diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). E a popularidade de Dilma Rousseff continua em alta, graças ao pleno emprego.
A presidente no momento tem praticamente garantida sua reeleição no ano que vem, depois da Copa do Mundo.
Mas a sensação de bem-estar aparente do Brasil não passa de uma fachada. O crescimento econômico do ano passado mal atingiu 1%, pouco superior ao da zona do euro. Este ano, o Brasil está crescendo menos que o Japão. A inflação solapa a confiança do consumidor.
Há um senso de que há algo de errado. A raiz do problema é uma desaceleração no investimento que começou na metade de 2011 e continua até agora. E, no entanto, é exatamente de mais investimento que o Brasil precisa para manter seu nível de emprego e se tornar a potência econômica mundial que aspira a ser.
O resto da região investe o equivalente a 24% de sua produção ao ano; a Ásia, em rápido crescimento, investe quase 30%; o Brasil tem de se conformar com apenas 18%.
Brasília precisa aceitar boa parte da culpa. A extravagância do modelo econômico baseado em consumo criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se exauriu. O modelo de Dilma, a despeito de sinais iniciais promissores, não está se provando muito melhor.
Todos concordam que o estilo autoritário da presidente não funciona bem na persuasão colaborativa, necessária para o estilo brasileiro de política de coalizão.
PROTECIONISMO
O processo decisório é centralizado, o que atrapalha a corrupção, mas retarda o avanço. Dilma também vem consistentemente preterindo as reformas orientados ao mercado em favor de protecionismo a setores preferenciais, e seus lobbies: o mimado setor automobilístico serve de exemplo. Há falta de articulação política, e de fiscalização quanto à execução.
Um exemplo clássico é a infraestrutura. O Brasil quer levantar bilhões de dólares para construir novos portos, aeroportos, pontes e estradas. Há interesse dos investidores, e compromissos firmes da parte deles, igualmente.
No entanto, espantosamente, não existe uma estrutura regulatória que permita que os novos projetos de infraestrutura sejam construídos. Há dinheiro ocioso, desnecessariamente.
O Brasil precisa desesperadamente de mais investimento. A baixa poupança nacional significa que boa parte dos recursos precisa vir do exterior. O capital é barato, no momento, mas não será para sempre. O Brasil tem uma grande janela de oportunidade. Dilma e seu governo precisam fazer as coisas acontecerem enquanto ela continua aberta.
O jornal britânico "Financial Times" criticou o desempenho recente da economia brasileira em editorial publicado nesta segunda-feira.
No texto, a publicação diz que o modelo econômico baseado em consumo criado pelo ex-presidente Lula se exauriu e que a sensação de bem-estar do país não passa de uma fachada.
Leia a íntegra do texto abaixo:
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O Brasil parece ter deixado a crise para trás. A estatal petroleira Petrobras na semana passada conseguiu realizar com sucesso uma emissão de títulos de dívida em valor de US$ 11 bilhões.
A oferta pública inicial de ações da subsidiária de seguros do Banco do Brasil, em valor de US$ 5,6 bilhões, continua a ser a maior do ano. Na semana passada, empresas de petróleo pagaram US$ 1,4 bilhão em um leilão de licenças de exploração.
O diplomata Roberto Azevêdo, do Itamaraty, acaba de ser escolhido como diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). E a popularidade de Dilma Rousseff continua em alta, graças ao pleno emprego.
A presidente no momento tem praticamente garantida sua reeleição no ano que vem, depois da Copa do Mundo.
Mas a sensação de bem-estar aparente do Brasil não passa de uma fachada. O crescimento econômico do ano passado mal atingiu 1%, pouco superior ao da zona do euro. Este ano, o Brasil está crescendo menos que o Japão. A inflação solapa a confiança do consumidor.
Há um senso de que há algo de errado. A raiz do problema é uma desaceleração no investimento que começou na metade de 2011 e continua até agora. E, no entanto, é exatamente de mais investimento que o Brasil precisa para manter seu nível de emprego e se tornar a potência econômica mundial que aspira a ser.
O resto da região investe o equivalente a 24% de sua produção ao ano; a Ásia, em rápido crescimento, investe quase 30%; o Brasil tem de se conformar com apenas 18%.
Brasília precisa aceitar boa parte da culpa. A extravagância do modelo econômico baseado em consumo criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se exauriu. O modelo de Dilma, a despeito de sinais iniciais promissores, não está se provando muito melhor.
Todos concordam que o estilo autoritário da presidente não funciona bem na persuasão colaborativa, necessária para o estilo brasileiro de política de coalizão.
PROTECIONISMO
O processo decisório é centralizado, o que atrapalha a corrupção, mas retarda o avanço. Dilma também vem consistentemente preterindo as reformas orientados ao mercado em favor de protecionismo a setores preferenciais, e seus lobbies: o mimado setor automobilístico serve de exemplo. Há falta de articulação política, e de fiscalização quanto à execução.
Um exemplo clássico é a infraestrutura. O Brasil quer levantar bilhões de dólares para construir novos portos, aeroportos, pontes e estradas. Há interesse dos investidores, e compromissos firmes da parte deles, igualmente.
No entanto, espantosamente, não existe uma estrutura regulatória que permita que os novos projetos de infraestrutura sejam construídos. Há dinheiro ocioso, desnecessariamente.
O Brasil precisa desesperadamente de mais investimento. A baixa poupança nacional significa que boa parte dos recursos precisa vir do exterior. O capital é barato, no momento, mas não será para sempre. O Brasil tem uma grande janela de oportunidade. Dilma e seu governo precisam fazer as coisas acontecerem enquanto ela continua aberta.
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