Reportagem de domingo da Folha assusta: Gestantes seria obrigadas pelos planos a fazer cesáreas. Ao ler a manchete (de tão chocante, já trocada no site) não há como não sentir uma repulsa.
Mas é aquela história, vamos aos "laudos"...
Logo a história fica esclarecida: A pessoa contrata um plano de saúde. Lá no plano está escrito: Para hospitais A, B e C (tidos como "luxuosos" ou de "elite") o plano só paga partos pré-agendados. Para partos não-marcados, existe a cobertura 24h oferecida pela rede própria do plano.
Não há negligência do plano, existe desinformação e esperteza do usuário. Esse tipo de informação é muito fácil de se descobrir na contratação do plano ("Quero fazer parto normal, posso usar o hospital das estrelas?").
Não perguntam. Como sempre, deixam tudo para a última hora. Ai se deslumbram vendo na TV a Gisele Bundchen tendo parto em piscina, banheira, etc, e querem reproduzir o consumo que a TV vende.
Só que na hora descobrem que no hospital de luxo, só marcado. Para esperar o trabalho de parto, que é imprevisível, é a rede própria do plano, que não tem o hospital de elite.
Por que isso? Discriminação? Sò um imbecil para dizer isso. O motivo é $$$. Um parto pré-agendado tem hora pra começar, terminar, tempo de duração de procedimentos e quarto. O preço é mais ou menos fixo e pode ser custeado pelo plano quando negocia no atacado.
Já o parto dito "normal" não tem hora pra começar nem para terminar, pode fazer o médico ficar parado por horas ou dias a fio, imobilizar quarto, sala e equipe. O custo é muito maior, imprevisível e não pode ser negociado por pacote.
Por isso que o plano até paga o parto no hospital de elite, desde que esteja no pacote. Não há dinheiro para fazer a pessoa ficar horas e horas a fio segurando uma equipe enquanto o parto natural se desenvolve.
Quer dizer, dinheiro há. Mas ai o preço do plano da classe média, que quer bancar a top model, iria subir bastante.
Para darmos uma idéia: Estudos mostram que a menos de 500 reais por vida, um plano não se sustenta. Se vendem planos a menos que isso é porque em algum lugar a empresa está tirando custo, normalmente às custas do SUS ou de pacotes por "atacado". Um plano de saúde que cobre hospital de elite para parto eletivo não sai por menos de 400 reais por mês, na média. Se for via empresa, só planos para funcionários "top" cobrem isso.
Se a pessoa optasse por um plano que cubra qualquer tipo de parto em um hospital de elite, o valor de sua mensalidade saltaria de 400 (média) reais para pelo menos 1.500 reais (média), preço dos planos TOP sem intermediação de empresas. Ou seja, quase 4x mais.
Agora vamos perguntar para as indignadas da matéria da Folha se elas topam pagar 4x mais para ter parto na banheira do hospital de elite? (Risos) Claro que não.
Ai vem a esperteza: A primeira é usar a Justiça com argumentos pseudo-sociais para transformar o peticionante em um retardado coitado que não entendeu nada e a empresa em vilã como culpada por ser sórdida e enganadora, como se a pessoa assinasse um contrato sem ler o que está escrito nele.
A segunda é com conluio do médico: Fraudar a Data Prevista do Parto para fazer com que a pessoa possa entrar em trabalho de parto antes da data da guia e com isso burlar o sistema. Recomendo às auditorias de planos que façam pente fino em todos os casos onde a gestante deu entrada em trabalho de parto antes da data da guia. O médico que colabora com isso comete fraude e deve com razão ser expulso do plano e processado pelo mesmo, junto com a cliente.
Por que? Pois esse tipo de fraude prejudica a todos, pois vocês acham que a empresa de saúde vai tomar prejuízo? Claro que não. Ela incorpora o "custo Brasil" no valor da mensalidade e pagamos hoje em dia até 30% mais caro em um plano do que ele deveria custar por causa desse tipo de gracinha. Não duvidem: Os chefes dos planos não vão suar um minuto por causa disso. Apenas incorporam o prejuízo no custo geral e pronto.
Esse é o Brasil do Estado Babá: Todos querem o luxo, mas ninguém quer pagar. Se lembram da história do obstetra do Neymar? É a mesma coisa: Querem o "parto normal" mas se recusam a cair na mão do obstetra de plantão. Queriam o mesmo "médico" o tempo todo, mas sem pagar a ele as horas a mais de espera. Obviamente não conseguiram, apesar do histerismo astucioso promovido, como agora.
Na prática, os planos estão ficando sem obstetras. A maioria agora só atende consulta, não parto. Graças, em parte, às espertas gestantes militantes do Brasil, que pelo menos em uma coisa se assemelham com as operadoras que tanto criticam: Nenhuma delas quer pagar nada pro médico.
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