A confiança é contagiante, a desconfiança, explosiva.
É natural no meio da segunda revolução tecnológica das comunicações, quando notícias se disseminam em altíssima velocidade, que as pessoas absorvam grande quantidade de razões e motivos e as processem na rapidez inversa. Firma-se o fenômeno de massa da “Desconfiança Compulsiva Coletiva”.
Na inglaterra, há 200 anos atrás, fato bem documentado na história de medicina, fora disseminada a notícias de que um dado cidadão nobre inglês teria sido enterrado vivo. Não teve outra. Em poucos dias inventaram um ataúde com uma sineta amarrada a um barbante que ficava na mão defunto e seria puxada por uma cordinha, caso o defunto não fosse defunto. Pois bem, milhares de criaturas apavoradas ficaram na fila para comprar a invenção. A coisa foi tão séria que um decreto real anunciou que o cadáver deveria ficar 5 dias sem cerimonias fúnebres para que houvesse “certeza”. Ah! O governo sempre comprou o pânico do povo.
Outro dia uma colega médica perita falou que não provava mais, de jeito nenhum, extrato de tomate porque soubera que há alguns meses encontraram um preservativo dentro de uma lata no Brasil, o fato foi real. Noutra ocasião uma amiga plantonista falava que nunca mais comera carne bovina porquanto lera que alguém havia comido e tido a doença da vaca louca no Brasil. O Pânico é um grande investimento por outro lado. Quem ganhou com isso? Ora, o molho quatro queijos e a carne de frango. Não é de hoje que se ganha com o Pânico alheio. E muita gente sabe disso.
Na área da saúde, minha queria de mais que pisada área, infelizmente determinados grupos de pessoas têm investido pesadamente no pânico. A minha atividade médica, de grande potencial, produz um de excelente qualidade inequiparável. Laboratórios farmacológicos, hospitais, charlatões de todas as naturezas, imprensa, paramédicos, próprio povo e, claro, o mestre dos mestres, o governo, adoram a medicina. O Pânico é a caneta com a qual o destino tem escrito a história da medicina.
Sem tempo livre* para exercitarem a razão, o que nos diferencia dos animais, tampouco avaliar lentamente os detalhes da informação recebidos em contraposição a celeridade com a qual se recebe, as pessoas caem nas garras do vendedor de ilusões, sim, na teia de aranha, na planta carnívora que abocanha os cidadãos como moscas sem remorsos. *Embora haja tempo de sobra parar malharem o corpo nas academias, reclamar do governo e, claro, conferir seus investimentos bancários
Por fim. Os laboratórios querem forçar seus produtos modernos, a imprensa quer vender seus jornais “imparciais”, os chalatões suas fórmulas milagrosas... A carniça médica é gora é atrai muitos urubus. As doulas, na sua maioria, por exemplo, precisam vender a percepção de que “os médicos fazem errado”, “o pediatra faz errado”, “o hospital fez tudo errado” e caso elas, não estejam, presentes, um crime bárbaro e atroz estaria na iminência de ser perpetrado. Impressiona-me o fato de se sentirem tão essenciais e inteligente a ponto de suspeitar sem conhecimento. Impressiona-me mais ainda quem acredita nisso.
Ontem dei plantão numa determinada maternidade e falamos sobre isso. As colegas obstetras e pediatras estavam coincidentemente revoltadas com os texto de certa doula conhecida aqui em Natal postara no seu facebook quando criticou veementemente a conduta da obstetra por não permitir que o pai assistisse e entre outas críticas ácidas, o fato do pediatra não ter liberado a criança que respirava desconfortável, mecônio espesso, para ficar imediatamente com a mamãe. Era uma Xerife de sala de parto, viam a hora receber voz de prisão de uma Doula. Mais o ato mais ofensivo, sem dúvidas, foi o agradecimento da mãe com beijos e lágrimas feito, acreditem, a doula, com palavras carinhosas de amor enquanto sequer sabia o nome dos profissionais médicos suados, cansados e exauridos que a atenderam. A Doula é um parasita da medicina.
A desconfiança doulística injetada via verbal é de uma força tamanha que faz com que sua parturiente sinta-se poderosa e conhecedora a ponto de retirar os monitores fetais da sua própria barriga, aceitar gotinhas na boca de sei lá o quê e, pior, rejeita algumas técnicas científicas consagradas que aliviam a dor e o sofrimento como analgesia obstétrica, uso de ocitócitos, reanimação neonatal e a episiotomia. A Doula promove um grande experimento psicológico de trapaça sem pudor. Ela é examente igual ao advogado previdenciário que ganha a vida (mente) tentando Desqualificar o Perito do INSS – triste ofício.
Este episódio cômico e trágico do filme, “Doula a testemunha”, alerta para uma era nova onde a relação de desconfiança não está somente limitada aos consultórios periciais, mas também a assistência. Sim, autores de Medicina Legal que têm descrito há anos que a Relação Perito X Periciado seria fundamentada na “Desconfiança” em contraposição a Relação Médico x Paciente, alicerçada antes de tudo na “Confiança” entre as partes, precisam rever seus conceitos teóricos.
Nesse turbilhão de pensamentos. Uma pergunta que me deixou demasiadamente confuso:
É possível exercer medicina assistencial com desconfiança?
Mas isso fica para outro texto....
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