Chama a atenção de qualquer um os relatos vindo do Sul, dando conta de que diante da ameaça dos gestores de acabar com a carreira em caso de não acatamento de suas ordens a reação dos peritos tem sido de galhofa, ironia e um profundo desapego ao cargo, com frases do tipo "acaba logo, fará um favor a nós" ou "essa carreira de lixo não prende mais ninguém".
Quando o escravo perde medo do chicote é hora do feitor botar as barbas de molho. Por que uma classe tão conservadora e refratária à embates como a médica estaria tão rebelde e desapegada de um emprego público federal, ao ponto de ironizar ameaças vindas da gestão?
A resposta se encontra no profundo desgaste dos médicos restantes nesta carreira e no esgotamento do modelo atual. Foram 1.700 exonerações/aposentadorias em apenas 40 meses, com aumento de velocidade nos últimos 2 anos. Somente no Sul foram 70% de perdas em meros 24 meses. E mesmo assim a média de trabalho está igual, denotando maior carga em cima dos que ficaram.
A sobrecarga atual somada á ofensa sentida diante de casos de privilégios sem fim de alguns, do sucessivo descumprimento de promessas (este blog tem uma lista ampla desses descumprimentos) e do mais recente fracasso do anúncio das 20h para o fim de 2012 fizeram os peritos chegarem a um ponto de não-retorno com relação ao INSS: Ou muda tudo e começa do zero ou será a anarquia institucional. Não há mais espaços para voltarmos às relações antigas, onde esse tipo de ameaçazinha surtia efeito.
Por isso, quando gestores bronzeados e exoftálmicos aparecem diante dos colegas exigindo mais trabalho por causa dos erros feitos por eles mesmos (gestores) não se pode esperar nada a não ser respostas do tipo "acaba logo com esse lixo".
E estamos em um ano crítico pois 2013 é o ano de aposentadoria em massa de muitos que fizeram o curso do pé-na-cova ou entraram em 2005/06 já próximos da aposentadoria. Previsão de saída de pelo menos 800 colegas por aposentadoria mais o exonerômetro podendo passar de 1.000 apenas esse ano.
Agora as 20h passam a ser uma necessidade do INSS e não mais dos peritos. Sem as 20h não haverá nada que prenda os peritos ao cargo, nada que faça trazer mais médicos e a tendência será o colapso definitivo do setor de benefício por incapacidade com ações similares país afora.
Um comentário:
A carreira vai acabando, a única defesa que os médicos encontram é o seu próprio pedido de exoneração e o CFM nada ... nem um só comentário ... como se a coisa não fosse com eles ...
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Um dia o governo atacará os queridinhos do CFM (médicos do RJ, SP e BA), e os ex-peritos do Sul dirão "Passeata? paralisação? o que tenho eu a ver com os problemas do nordeste ou do sudeste? estou fora ...".
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Não que eu deseje tal coisa. Longe de mim isto. Mas quando um órgão nacional abandona seus correligionários de uma das regiões, provoca uma divisão na classe, que se manifesta na adesão aos futuros movimentos classistas. Quando o CFM deixa de atuar como representante de toda a classe, a classe também deixa de atuar como uma unidade nacional, dispersando-se em interesses regionais. E todos perdem com isto ... menos o governo.
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Hum ... será que o governo tem algo a ver com o sumiço do CFM? afinal, o governo atual é composto por ex-sindicalistas, que sabem muito bem dividir uma classe.
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Será?
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