O sucesso da medicina ocidental no século XX vem atraindo até hoje uma multidão de pessoas que querem de todas as maneiras um pedaço desse bolo. Como as vagas para médicos nas faculdades são limitadas, a indústria dos paramédicos** vem sendo alimentada ano após ano com pessoas sedentas e famélicas por serem "médicas" sem serem de fato.
As espertas da vez são as doulas. As doulas (ou dulas) podem ser definidas como uma assistente de parto sem titulação oficial, que proporciona informação e apoio físico e emocional às mulheres durante a gravidez, o parto e o pós-parto.
Ou seja, são acompanhantes das gestantes. Com o diferencial de estarem revestidas com uma capa de pseudo-ciência, o que as diferencia das acompanhantes tradicionais. Fenômeno do Estado Babá midiático com suas subcelebridades instantâneas, as doulas começaram a aparecer na mídia como sendo responsáveis por partos de filhos de estrelas da televisão, ao estilo "humanizado" no próprio domicílio, seguindo a linha "new age" em moda.
Com a exposição, ganharam clientela nas classes econômicas mais inferiores. E ai começa o problema, pois para quem tem dinheiro, fica fácil vender capa de revista com seu parto "humanizado" dentro de casa escondendo que ao lado da foto tem uma equipe médica de prontidão e uma UTI neonatal montada para primeiro suporte em caso de problema.
Mas as iludidas donas de casa e profissionais liberais da classe média não possuem dinheiro para esse suporte. Logo, o parto "humanizado" delas terá que ser mesmo no velho e tradicional hospital-maternidade "desumanizado". O problema é que as iludidas queriam levar as doulas para lá, e no início conseguiram sucesso na empreitada pois o hospital não queria arrumar problema com a cliente.
Porém diante da explosão de pedidos e da reclamação dos médicos (realmente deve ser insuportável você estar concentrado em sua atividade ao qual levou 10, 12 anos estudando e ter que dividir esse momento e ouvir pitacos de uma pessoa leiga que só deve falar bobagem pros médicos fazendo onda com a cliente) os hospitais em São Paulo decidiram acabar com a farra.
Uma das principais redes de maternidade para a classe média aqui em SP decidiu que agora ou entra a doula ou entra o marido, ou seja, um acompanhante apenas. As doulas surtaram, imagina o prejuízo que essas paramédicas vão ter com essa atitude?
Estão promovendo protestos e levantando a bola (mais uma vez) do corporativismo médico. Mais uma falácia em andamento. A evolução natural seria um projeto de Lei regulamentando a função e outro PL obrigando a ter doulas em hospitais públicos e privados.
Mas as doulas são espertas demais. Elas surpreenderam a imprensa ao anunciar que não querem ter profissão regulamentada, apenas serem reconhecidas como "ocupação" pela CBO (Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho).
O motivo dessa "surpresa" é óbvio: Se as doulas virarem profissão regulamentada, serão obrigadas a recolher INSS como contribuinte indivudial obrigatório, serão obrigadas a pagar ISSQN e serão obrigadas a ter um Conselho Federal e com isso pagar anuidades.
Pagar imposto? Sai dessa. Sendo apenas uma "ocupação", estão livres dessa carga tributária ao mesmo tempo que obtém respaldo legal para atuação profissional.
Mais um grupo que quer mamar na teta da medicina, receber louros pelo trabalho alheio (o do médico) e ganhar dinheiro enganando iludidas gestantes com o falso discurso do parto humanizado.
Falso pois quando não havia médico e os partos eram "naturais e humanizados", a mortalidade materna beirava os 40% e a neonatal superava os 20%. Era muito comum famílias com 12, 13 filhos órfãs de mãe ou com relato de vários filhos que "não vingaram", termo esse até hoje usado por avós e bisavós.
A entrada da medicina moderna no parto fez a mortalidade materna e neonatal cair a índices tão baixos que quando ocorre vira caso de polícia.
A intenção de seduzir uma população infantilizada com o discurso do "verde e natural" tem apenas a intenção de auferir lucro pecuniário (leia-se GRANA) em cima das gestantes e roubar para si o trabalho árduo de pré-natal feito pelo médico "desumano". O resto é conto da carochinha.
**Este blog define como "paramédico" o profissional regulamentado ou não que atua no setor da saúde em uma área específica do conhecimento mas tenta a todo o momento fugir de suas atribuições legais ou esperadas para invadir área de competência médica. Este blog respeita e apóia os profissionais de saúde não-médicos que sabem para o que foram formados e se recusam a bancarem os "médicos" sem o serem de fato.
Ganhou uma fã.
ResponderExcluirNão entendo a necessidade de uma doula.
Esperei vários anos para ficar grávida. Por quê? Porque queria engravidar no momento certo, de comum acordo com o meu marido. Nunca quis engravidar 'acidentalmente' ou contra a vontade do parceiro. E me cuidei para isso. Me preparei para isso. Então não precisarei receber 'apoio psicológico' de uma doula no momento do parto pois eu fiz essa escolha 'de ficar grávida' consciente. Odeio frescura e não gosto de muita gente pondo a mão em mim. Massagens no momento do parto com certeza me deixaria estressada e infeliz.
Falo por mim..não sei das outras gestantes...Cada um escolhe o que é melhor para si.
Na hora do parto precisarei apenas de duas coisas: a minha coragem (sou muito corajosa) e a assistência de um médico/a que como você diz: "ao qual levou 10, 12 anos estudando". Não quero mais nada..Quero apenas ter o meu bebê, agradecer e voltar com ele para casa.
Um abraço.