Em
qualquer estrutura de trabalho, pública ou privada, o funcionário
ou servidor se reporta a alguém que ele claramente reconhece como
superior hierárquico. O fluxograma é linear, ou seja, A se reporta
a B, o qual se reporta a C, etc. No INSS, o Médico Perito
se reporta a dois superiores hierárquicos, mas entre os dois não
existe nenhuma relação de hierarquia. A coisa remonta a
Ionesco, autor do teatro do absurdo. O Gerente da APS é o superior
encarregado de fiscalizar assiduidade, pontualidade, frequência,
produção e comportamento em geral. A ele, o Perito se submete e
bate continência. No entanto, também bate continência ao Chefe do
Serviço de Saúde do Trabalhador, responsável pela parte técnica,
elaboração de agendas, cumprimento de metas, implantação de
manuais, controle de qualidade, organização do trabalho, etc.
Para
complicar mais um pouco, nas organizações, ser “superior”
significa saber mais, ser o mais versado, o mais experiente. Os
advogados são liderados por um advogado líder, os engenheiros , por
um engenheiro-chefe, as enfermeiras, pela supervisora, e assim por
diante. Ressalvadas indicações políticas, toda estrutura
funciona bem quando os comandados obedecem por admiração, por
reconhecimento de que o chefe sabe mais e faz melhor. Mas no INSS,
com sua administração esquizofrênica, o Gerente da APS não é
médico, muito menos Perito. Já
na Chefia do SST, muitos são médicos, mas não todos.Não estou criticando nem um nem outro, ambos estão em seus papéis , a maioria tentando dar o melhor de si e nenhum deles é responsável pela situação posta.
O
leitor que, a esta altura, se pergunta se não existe conflito nesta
relação triangular, deve receber um sonoro “sim” como resposta.
A começar pelo status de cada parte: o Perito, servidor de ponta,
soldado raso, o líder da APS tem status de Gerente e o líder do
SST, como diz o próprio titulo, tem mero cargo de chefia , sem
nenhum poder sobre o Gerente. A estrutura gera situações absurdas,
tais como:
-
O Perito precisa decidir a quem se reportar, conforme a natureza da
dúvida.
-
O Perito se dirige ao Chefe da SST e ouve deste que o assunto não é
com ele.
-
O Perito se dirige ao Gerente da APS e ouve deste que o assunto não
é com ele.
-
O Perito leva determinado tópico para o Gerente da APS que o Chefe
do SST entende como intromissão na sua área e se sente
desmoralizado.
-
O Perito leva determinado tópico para o Chefe do SST que o Gerente
da APS entende como intromissão na sua área e se sente
desmoralizado.
-
Nas duas últimas situações, o “ erro” é do Perito e gera
consequências nas suas relações com ambos.
Eu
gostaria muito de submeter este cenário para um deste gurus de
Administração e saber o que ele pensa. Imagino que ele vai ver a
coisa toda como um case
muito interessante, e quem sabe não vai dedicar um capítulo do
próximo livro ou um espaço em suas palestras para abordá-lo.
No
fim da contas, o Perito é o marisco do velho adágio que diz
quem é que realmente
sofre na luta entre o mar e o rochedo.
2 comentários:
Famtastico texto, resume com precisao o caos gerencial do inss, onde trm muito cacique pra pouco indio e ninguem manda em ninguem.
FaNtastico, só pra corrigir.
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