GABAS E A OPERAÇÃO PORTO SEGURO - PARTE 2

Uma das formas de se comprovar a veracidade de uma informação é checar a sua plausabilidade. É como numa perícia, quando uma idosa de 75 anos dá entrada no RGPS como autônoma e aparece na perícia um ano depois dizendo que trabalha de faxina mas ficou doente. É plausível isso? A plausabilidade é um importante elemento de análise pericial por muitas vezes negligenciada pelos colegas em seus laudos.

Foi dito que o líder da quadrilha da Porto Seguro (Paulo Vieira) que tinha como integrante a amante do Lula (Rosemary Noronha) estaria chantageando o então Ministro Gabas com boatos de que o esquema estaria custeando as mensalidades do curso particular de medicina de sua filha.

Não existe, até agora, prova nenhuma disso. A pergunta básica inicial é: 

É plausível essa hipótese? 

Para isso primeiro teríamos que ver em primeiro lugar se a família de Gabas teria como arcar com os custos de um curso particular de medicina em Brasília.

Bom, o portal da transparência nos diz que Gabas ganha em média R$ 10.000,00 líquidos mensais. Sua esposa, que também é funcionária do INSS recebe cerca de R$ 4.000,00 líquidos. Não consta outros vínculos empregatícios para ambos.

Uma mensalidade média do curso de medicina na Universidade Católica de Brasília gira em R$ 4.000,00 líquidos, desconsiderando possíveis bolsas, que são raras em cursos médicos (galinha dos ovos das universidades). Esse custo é apenas a mensalidade. Os custos agregados incluindo despesas ordinárias como transporte, comida, carro, livros de medicina, materiais médicos, taxas universitárias extras dentre outros facilmente elevam esse custo no barato para 6.000 a 7.000 reais/mês.

Estamos falando aqui que o curso de medicina absorve 50% da renda mensal da família. De fato, é bem pesado. Ainda mais que existem outros filhos no lar, mas também considerando que por ter cargo relevante ele possui provavelmente apartamento funcional, motorista, etc, seu custo pessoal deve ser baixo mas mesmo assim fica pesado o suficiente para começar a acreditar nas conspirações.

Eis que descobrimos que o secretário possui um jeton mensal de 4.000 reais por participar do conselho da COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA CAPITAL DO BRASIL – NOVACAP, conforme seu contra-cheque mostra.

O que faz um técnico do seguro social em cargo de secretário-executivo de Ministério como membro do Conselho de uma Companhia Urbanizadora é um mistério praticamente insondável,  uma coisa que nem o calendário maia conseguirá explicar. 

Mas nesse caso, o jeton é bem vindo pois está exatamente na faixa da mensalidade da faculdade da filha, o que desonera bastante o orçamento familiar.

O que Gabas pode contribuir para a NOVACAP eu não sei, mas a NOVACAP salvou sua pele pois com esse jeton fica plausível a hipótese dele conseguir bancar o caríssimo curso de medicina de sua filha (aliás, um dos mais caros do país), pois com esse auxílio-extra fica razoável pressupor que os outros gastos são embutidos em seu orçamento.

Ou seja, em tese, Gabas não precisaria da ajuda de ninguém para pagar esse curso, o que enfraquece a hipótese do boato, mas teria que levar uma vida de monge para custear tudo, sustentar a outra filha e viver em Brasília.

Precisaríamos agora saber se esse jeton já existia antes ou coincidiu com a entrada de sua rebenta no curso médico para termos mais clareza de como se deu o processo, mas isso fica para depois.

E, obviamente, a nação merece uma explicação do porque da necessidade de um especialista em seguro social previdenciário numa empresa de urbanização. De qualquer forma, eu ainda acho melhor explicar isso do que explicar gastar 50% do orçamento no curso de uma das filhas sem precisar de ajuda.