terça-feira, 23 de outubro de 2012

EXEMPLOS NUNCA SÃO AO ACASO

Após 9 hs no MPS, tendo produzido 60% mais pareceres do que a meta, fato incomum, me dirigi ao elevador rumo ao consultório, local onde exerço medicina assistencial 12 hs por semana e cuja renda é complementada pelo emprego no INSS. Ao abrir a porta, verifiquei que 2 senhoras de idades diferentes estavam descendo de um dos andares superiores, vindo, como vim a saber em seguida, de um treinamento em auditoria, ouvidoria ou controladoria, sei lá. Uma delas aparentava ser instrutora e quem - como eu - leciona sabe como é comum as aulas se alongarem pelos corredores, elevadores e até calçadas. 

Ao entrar, o assunto era descumprimento de horário de médico e os procedimentos cabíveis. Ao perceber, pelas roupas, que eu era um médico, a colega suposta instrutora, muito gentil e sensível, se apressou em dizer que era apenas um exemplo, um exercício. Eu, que não pretendia falar nada, fui forçado a dizer que exemplos não são ao acaso, que a cultura do INSS é essa: atribuir ao médico, menos de 8% da mão de obra, a responsabilidade pelas vergonhosas filas com que convivemos, bem como todos os males do instituto. Não mudam o tom, falam a mesma coisa o tempo todo e há muito tempo, disse eu. Já ouvi em Brasília, que o problema do INSS era a agenda médica, ou seja, os médicos.

A colega escutava, tentando, no início, contrargumentar. Logo desistiu e, muito educada, me ouviu concluir que parafusar médicos não resolve o verdadeiro problema do INSS; que as filas atendem o interesse de gerar diárias, instrumento de exercício de poder. A porca já espanou e o INSS não muda a toada. Faz concurso e 40% dos médicos candidatos nem aparecem nas provas; dá posse aos concursados e 70% se exonera no primeiro ano. E tome torque no parafuso!

Sinto muito colega, a cultura institucional está viciada para servir à indústria das diárias que não seduzem os médicos que, como eu, precisam estar em suas cidades para exercerem a medicina.

Um comentário:

  1. Exatamente isso EH.
    Receio todavia que este "culpado até prove o contrário" extrapola as portas ingratas do INSS e atinja toda a classe médica atualmente.

    No Hospital, deu errado, é erro médico. No INSS, é erro do Perito.





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