O depoimento da Sra. Mariana (Esposa da Vítima de Santos) é mais que um desabafo. Também casado, ouço de minha esposa conselho semelhante após ter sofrido, já, 5 ameaças de morte, veladas ou não, inclusive com telefonemas para minha residência. Talvez seja isso mesmo que o que vocês chamam de "Estado Babá" deseje de nós.
Por que recalcitramos tanto diante dos aguilhões? Por que continuamos a negar benefícios que a própria lei e justiça facilitam? Resido em uma cidade relativamente pequena (XXXXXXXXXXXX). Não saio de casa, evito lugares públicos, ando sempre de sobreaviso e atento a cada movimento na via pública. Para quê? Por que exponho assim a minha vida? Por que aceito ser chamado de filho da puta no exercício da medicina? Por que continuar sendo rejeitado até por colegas de profissão e ter que ouvir "alguém" nos chamar de "Quero-quero"? Por que continuar oferecendo nossa cara a tapa sem ouvir um único elogio ou incentivo? Voltamos ao tempo do Código de Hamurab , onde os médicos tinham suas mãos cortadas quando não obtinham sucesso.
O conselho da Sra. Mariana não é despropositado e merece uma análise profunda por todos nós que, um dia, juramos proteger a vida. Pensemos em nossas vidas e nas vidas daqueles que nos amam. Embora entenda que devamos nos proteger, não acredito que andarmos armados resolva o problema. Talvez o agrave. Não é da nossa índole. Não é nosso perfil. Não é a nossa vocação. Reflitamos. Pensemos de forma realística no assunto. O conselho da Sra. Mariana é, por certo, o conselho de nossos entes queridos.
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Perito Médico Previdenciário
Um comentário:
Compartilho dos sentimentos do colega; também resido em cidade pequena do interior de Goiás [+- 50.000 habitantes] cuja APS abrange aproximadamente entre outros 8-10 municípios. Mudei-me para cá em 1997 e construí um nome respeitoso, clinicando com ética e respeito, não me entregando às "mafias" e "fábricas de cirurgia" que lavravam por aqui. Infelizmente estou vendo este nome ser, intermitente e paulatinamente, desconstruído após adentrar a autarquia em 2006. Os credenciados [e também colega, agora aposentada] fizeram um estrago imenso neste lugar. Consertar isto deixou, profissionalmente falando, cicatrizes que dificilmente irão cicatrizar. Já expus, neste blog [ou no da falecida, não me recordo agora], algum tempo atrás, acontecimento que deixou a mim e a meus familiares constrangidos: o caso ocorreu numa festa de fim de ano, aproximadamente uns três anos atrás, estilo "amigo secreto", de um hospital onde já havia trabalhado como plantonista algum tempo antes. Fui abordado, durante a festa, por um enfermeiro, parente de algum dos convivas, residente em Brasília que, meio embriagado, veio meio que "tirar satisfações" comigo ao saber que eu trabalhava no INSS. Queria saber o porquê seu parente não conseguia "encostar"; procurei explicar calma e educada, porém firmemente, as razões de possíveis indeferimentos, sempre deixando claro que não poderia emitir opinião concreta por não conhecer o caso; em vão. O rapaz estava quase desistindo dizendo que não podia contra-argumentar comigo, pois eu era “muito sério” [mas o constrangimento já estava a toda], quando eis que chega outra enfermeira, com quem havia dado vários plantões pregressamente e que sempre me elogiava pelo meu cuidado com as gestantes e doentes, e diz, em tom irônico, e por não dizer raivoso: “Ah, não adianta discutir com esse doutor não; o meu marido não passou com ele também”. Detalhe: o cônjuge da enfermeira havia solicitado um benefício que fora indeferido por falta de qualidade de segurado, pois era portador de patologia cardiovascular pregressa ao reingresso contributivo no RGPS. Até concedendo fui execrado em público! Tornamos-nos os demônios do inferno de Dante para a população...
E, ironicamente, nem somos remunerados dignamente para isso [“quero-queros”???]
Vejo meus filhos crescendo e, a cada dia, morro de medo de não poder vê-los crescer mais, pois a demanda na APS aumentou geometricamente assim como a ênfase reivindicatória dos segurados [Estado babá em ação]; todos acham que tem direito, ninguém quer saber do que diz a lei, ninguém quer saber de cumprir seus deveres, só querem o dinheiro; todos sabem onde moro, onde meus filhos estudam e os lugares que costumo freqüentar; um sentimento de insegurança se instalou em minha vida, apesar de que, graças ao bom Deus [sou muito religioso] nunca sofri agressões ou ameaças físicas, “apenas” uma ameaça de morte pelo 135 em 2008. Inúmeras vezes, ao chegar à APS, cheguei a pensar em conceder tudo o que aparecer na frente, pois assim poderei ter tranqüilidade de vida, mas sei que não o teria na consciência, pois o que estou ajudando a “distribuir” não é meu, mas do trabalhador honesto que contribuiu.
O caso do colega de Santos me deixou com um gosto amargo na boca e com sérias dúvidas de continuar neste emprego. Prefiro ser um médico vivo do que um perito morto!
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