Há algumas semanas a mídia vem apresentando
notícias sobre a crescente onda de ataques morais e físicos, erros profissionais
e processos de reparação de danos, relacionada aos médicos. Sim, por todo país, as pessoas estão ferozmente
revoltadas contra os profissionais que estudaram para lhes aliviar o sofrimento
da vida. Sem dúvidas o médico está sendo considerado o maior dos males sociais necessários.
Parece que se “aceita” ou “tolera”o médico apenas por conveniência e
oportunidade no sistema. Observemos que a nomenclatura do tipo de erro chamado de
“erro médico” já é preconceituosa per se e ajuda fortemente a disseminar o
subentendimento social de que “quem ou o
que quer se tenha errado” em matéria de saúde, o culpado já é garantido.
Governo?
Mas isso ninguém vê. Ministério Público? Poder Judiciário? Legislativo? Paramédicos?
Sim, ninguém aparece para repartir a dívida da culpabilidade cobrada pela
família que chora sobre o saco cinzento de um cadáver malsão. Ninguém aparece
para lembra ao povo que quem sabe o que fazer, mas nada pode fazer, está isento
de culpa. O médico não é ovelha de sacrifício para expiar pecado de gestor.
Tanto faz no Ministério da Saúde quanto o da Previdência. O médico é a casca, é o
casco, é a couraça, é concha que protege, esconde e cobre as lesmas das gestões.
A medicina está ficando incompatível com
a sua doadora vocação humanista. Os conflitos nesta área cresceram tanto que –
anotem – em pouco tempo haverá polícia, advocacia, promotoria e tribunal
específicos para casos de conflitos em direito médico. Observemos que atualmente notícias
sobre a medicina são achadas, em sua maioria, nas páginas policiais dos jornais.
Mas que ganha com isso? Mas quem se importa?
Outra coisa a ser analisada é o novo fenômeno da
incrível tendência moderna crescente de pessoas que fazem de tudo para se
esquivarem das suas responsabilidades diretas ou indiretas dos insucessos
diagnósticos e terapêuticos. Vejamos o cidadão sedentário, etilista e fumante
inveterado sente uma dor torácica moderada. É orientado a procurar um médico.
Demora uns 10 dias por seu próprio arbítrio. Infarta subitamente e morre na
emergência, não antes de culpar o médico por demorar 15 minutos para atendê-lo.
Este, por sua vez, demorou, porque estava tratando de suturar o pé direito de
um bêbado que sofreu acidente motociclístico, mas que daqui há 15 dias, agora lúcido,
irá processá-lo por não ter visto uma fratura de tornozelo associada – infelizmente
o RX era de péssima qualidade. Parece que colocar a culpa no médico alivia o
peso da própria culpa. É isso. Da mesma forma, no INSS, parece muito mais fácil
dizer que a perícia “negou” do que vestir a capa da irresponsabilidade por ter ficado anos sem se preocupar com questões previdenciárias. O povo brasileiro transformou
seus médicos em Devoradores de Pecados - Homens considerados imundos no
ofício, moralmente imperdoáveis, porém absolutamente necessários para sociedade
porque recebiam os pecados de todos os moribundos e mortos no instante em que
passavam para a outra vida.
Esta semana,
por exemplo, uma mãe irresponsável permitiu que
seu filho de 11 meses fosse até a cozinha e ingerisse o veneno de rato próximo
ao fogão, mas não
teve a mesma desatenção quando foi para acusar a equipe médica que tentou
salvar a vida dele. Noutro caso, foi aplicada a
medicação Dipirona na veia para tratar uma criança de 2 anos e ela foi a óbito. Detalhe, ninguém sabia que a
criança era alérgica, mas todos prontamente constataram um suposto erro médico.
Detalhe, teria faltado luz no hospital, mas o erro foi “medico”. A Pergunta é:
“O povo está exigindo no mesmo nível de merecimento e conhecimento?”
Urge chamar a população à própria responsabilidade
civil e a fazer reconhecer como coadjuvante do caos. Se o Estado é “babá”, a
criança é “mimada” porque age fazendo o que quer enquanto todos se calam. O governo precisa
aprender a dizer “não” da mesma forma e a punir quando o povo infante que agride
médicos sem razão. Passa da hora de um levante médico para repartir o pão que o
diabo amassou com todos. Rasgar esta camisa de força escrita “bode expiatório”,
zelar por sua segurança e apontar os reais problemas em Boletins de Ocorrências
Policiais. É preciso cobrar bom trato do servidor da mesma forma que do
usuário. A mídia não pode mostrar cara de menor na TV, não pode dizer que um
cidadão é culpado sem julgamento, mas pode dizer abertamente que houve “erro
médico” sem julgamento. O Ministério Público se queda às pressões políticas e
tenta resolver problemas de gestão e financiamento fiscalizando ponto de
médico. Vive-se um sistema onde uma morte num hospital seria um “erro médico”
até que se prove o contrário. Os médicos não podem aceitar isso sobre hipótese
nenhuma.
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ResponderExcluirMas os médicos encontram-se entre a "Cruz e a Espada" pois se de um lado tem o Sistema Publico mal gerido e ineficiente além de sem investimentos e ambiente de trabalho insalubre e mal equipado, do outro tem as Operadoras de Saúde que transformam a profissao e o ato medico em proletariado implementando um Modelo escravista e Fordista, levando a falência Hospitais e Consultórios por todo o País além da falta de estímulos a profissão!
ResponderExcluirSe a "mais valia" fica pra estes bacanas então pra que o esforço?...
Somente um NOvO MODELO econômico na prestação dos Serviços Médicos será suficiente para tentar reverter o caos que se instalou e que insiste em perdurar! Do contrario, esquece, ou baixo investimento publico ou escravidão!
Tudo tem preço. Estão massacrando os médicos. Medicina é nobre e essencial somente quando das necessidades de terceiros. O médico tem que se virar para poder pagar suas contas. Os bons cérebros não ingressarão nessa profissão. Sempre vão existir médicos, somente com diploma mas sem capacidade. Mas, como aprende-se na prática, diploma não trata ninguém. É preciso vocação, dom e perseverança. Que o povo pague, e caro, pelo que está apoiando. E aos médicos: tenham vergonha na cara e se valorizem um mínimo que seja. Estão se tornando a classe mais alienada do mundo.
ResponderExcluirSensacional, o texto diz tudo.
ResponderExcluirAinda assim é uma das carreiras mais concorridas no vestibular...vai entender...
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