terça-feira, 24 de julho de 2012

Partos em casa e casas de parto

Não é admissível a criação de casas de parto ou partos em casa.


Primeiro, porque criam-se duas castas sociais, o que a Constituição Federal veda ao dispor que todos são iguais e tem direitos iguais em relação à saúde.

Não existem suseranos e vassalos, segundo sentenciou uma Juíza aqui do Acre ao fundamentar sua decisão de proibir que médicos sem CRM atendessem a população mais pobre e desinformada.


É uma sacanagem, na verdade é um crime que usa de oportunismo, falácias, sofismas e regado a muito recalque, ignorância e irresponsabilidade.


A população mais pobre - que é para quem será vendida esta falácia - é a mais indefesa e vulnerável de todas, simplesmente porque não tem opção ou voz para poder dizer não, é frágil em todos os aspectos e está preocupada com a sobrevivência.

Portanto, é, além disto, uma covardia vender esta idéia para quem não tem como recusá-la.É a tentativa de vender um crime.


É crime porque o parto não é um momento fotográfico, mas um processo dinâmico, que dura cerca de 10 horas desde o início das primeiras contrações produtivas e deve ser monitorado a cada minuto por uma equipe onde cada um tem seu valor e seu papel, mas só o médico tem a visão holística e global do paciente por formação acadêmica nesta seara, o aprofundamento do conhecimento suficiente e, sobretudo, a prerrogativa - que é vedada às outras profissões em saúde - de intervir invasivamente ou não, cirúrgicamente ou não, para indicar e fazer exames na hora em que estes forem necessários.


E quem é que vai fazer o diagnóstico de um anel de Bandl, na iminência de uma ruptura uterina, ou de uma DIP tipo 2 ou 3, por exemplo?


O problema destas casas de parto é que são quase como jogar na loteria ou apostar no mais provável, ou torcer que tudo dê certo, objetivando, no fundo e na raiz, economizar recursos e isolar o médico do atendimento, como que dizendo que de médico e louco todos fazem um pouco.Sim, um pouco.Saúde boa custa caro!


Sem o médico não há garantia de maior segurança em um parto.O que acontece do ponto de vista prático nestas casas é que quando as coisas complicarem, só aí, com um atraso tremendo, é que vão levar estas parturientes para o hospital onde tem médicos.


Se o médico estivesse acompanhando desde o início, o problema já teria sido diagnosticado e detectado antes e a intervenção já teria sido tomada ali e na hora dentro do próprio hospital - que tem toda estrutura para fazer uam cesariana, se for o caso.



O grande problema é que não dá para saber de antemão quais casos perfazerão os 90% (em uma situação de perfeição idealística) que evoluirão para parto normal.

Se fosse possível saber com 100% de certeza quais partos não complicarão ou não necessitarão de cesariana, estaria tudo resolvido.Se houvesse uma máquina do tempo que possibilitasse discernir quais partos seriam descomplicados no futuro e permitisse depois retroceder no tempo, estaria tudo resolvido. Mas, hodiernamente, ainda não foram inventados espelhos retrovisores do tempo; apenas do espaço.


Não podemos tratar o ser humano como estatística global e admitir que seja admissível uma taxa de negligência, imprudência ou imperícia, "para o bem da saúde pública".Neste caso os fins não justificam os meios jamais.

O problema é que todo parto é imprevisível potencialmente e não há garantias absolutas de nada.Aos 45 minutos do segundo tempo podem acontecer problemas em qualquer parto, por melhor que seja a aparência de sua "cara".

Estes 10% (no mínimo do mínimo ideal) de cesáreas são inseparáveis dos outros 90% e só se saberá quem estará fora de risco após transcorrido todo o trajeto da maratona.É como se fosse uma roleta russa em uma arma com dez balas.

Alguém que defende tal discurso se habilitaria a botar a cabeça nesta roleta?E botar a cabeça de um filho, então?E botar a própria cabeça e mais a do filho, que tal?Quem defende isto não deve ter filho ou não tem sentimento de amor ao próximo.


No final, as estatísticas de erros ou de complicações de partos em casas torna-se quase zero, já que as parturientes serão levadas para morrer ou para produzir recém nascidos deficientes para o resto da vida nos hospitais, aumentando os índices de insucesso e de partos complicados no hospital, além das mortes fetais e neonatais, as morbidades hospitalares, aumentando os custos com internação, com absenteísmo, com medicações e com gastos previdenciários por consequência.


No final, ainda arrisca culparem o médico pelo desfecho mal sucedido de milhares de casos.Bode expiatório pefeito de um malabarismo engodoso.Este sistema de partos em casas só daria certo se Mateus embalasse o filho que pariu e se as enfermeiras assumissem do início ao fim todos os atos e condutas, sendo proibidas de encaminhar os casos graves quando der "pepino".


Então, façam assim: construam uma casa cercada do mundo e longe de qualquer hospital, sem ambulância para socorrer e sem médicos.E resolvam os problemas do início ao fim.E assumam a maternidade do filho morto ou paralítico cerebral quando estes nascerem.A maioria pode nascer bem?Pode, sim! Talvez mais de 50%!Mas, e os outros 50%?


Só vou acreditar neste discurso quando agirem da forma que eu falei e deixarem livremente à escolha da população o que preferirem.Para onde acham que a população vai querer ir?Ah, e só vou acreditar na autenticidade deste discurso quando puserem seus filhos e netos para nascerem sob estas condições.

4 comentários:

R disse...

Lembro que uma ativista americana que liderava o movimento do parto domiciliar morreu adivinha do que?? Complicacao no parto onde nao deu tempo de levarem ela ao hospital, ja tinha morrido!

R disse...

Lembro que uma das lideres do movimento do parto domiciliar nos EUA morreu justamente por complicacoes no parto feito em casa! Mulher jovem e que poderia ter sido prontamente atendida e poderia estar hoje com seu filho em casa!

Airton Jr. disse...

Vejam este link:

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ativista-de-parto-em-casa-morre-ao-dar-a-luz-,830352,0.htm

Aqui, a ativista era australiana...

Snowden disse...

Pensa que parir é igual a "numero 2"? É não! Complicou e se deu mal! Quando acordou já tava longe, lá na cidade "dos Pés Juntos"!