"Sobre o texto do respeitável colunista, em que pese a fonte prestigiada de seu artigo sobre o futuro da medicina, a tese defendida carece de fundamentação científica, social e econômica.
O envelhecimento da população não significará aumento de custos na saúde pela necessidade de mais médicos e sim pelo aumento do consumo de fármacos, de sistemas de diagnósticos complementares e de leitos hospitalares. A formação médica não é um custo alto nessa equação e segundo a OMS já existem médicos suficientes no planeta hoje, o que falta é a distribuição adequada deles. O impacto do envelhecimento na formação médica será de outra ordem: uma maior necessidade de geriatras e menor de pediatras. Logo, a base da argumentação não existe, é teoria desprovida de provas.
Posto isso, vamos ao cerne da questão: Os médicos não estão lutando por reserva de mercado, lutamos pelo direito de todos os seres humanos serem atendidos por profissionais preparados para diagnosticar e tratar suas doenças e esse profissional é o médico, não há mistério nisso. Ao contrário do que escreve o colunista, optometristas já fazem os nossos óculos e enfermeiras já fazem partos de baixo risco, mas quem está preparado para dizer que o parto é de baixo risco e a causa da baixa acuidade visual é mera miopia é o médico, não o optometrista ou a enfermeira. Essa é a questão: Quem faz o diagnóstico? Quem diz que tal terapia é de baixo ou alto risco? É o médico. O diagnóstico é a base do atendimento em saúde, sem diagnóstico todo o resto se perde, logo chega a ser impactante ler na Folha um texto que defenda que pessoas possam ser tratadas sem a presença de um médico na equação.
Da mesma forma que eu tenho certeza que o articulista, bem como todos os que podem assinar este diário, jamais se submeteriam a um optometrista para prescrever óculos sem saber se a falta de visão não é causada por algo mais grave, ou seja, sem antes ir a um médico, é inaceitável que se defenda que populações desassistidas, que não possuem renda para ir aos mesmos hospitais que a população mais rica, sejam atendidos por outros profissionais da saúde sem que tenham o direito de serem diagnosticadas por um médico. Portanto, aqui cai por terra a lógica social do argumento da The Economist, pois se esse cenário fosse permitido, teríamos duas medicinas: A de ricos, com médicos atendendo nos hospitais de elite, e a de pobre, com enfermeiras e optometristas atendendo nos bolsões de pobreza. Quero crer que não é isso que o autor do texto defende. Mas é isso que a The Economist defende, pois este é o argumento do grande capital liberal, que a revista bem representa, que quer baratear o custo saúde eliminando da equação o profissional caro, o médico. Caro não por precisar de 10 anos para se formar, caro pois para trabalhar necessita de hospitais estruturados, leitos e centenas de outros profissionais da saúde para fazerem o atendimento da prescrição e a reabilitação.
O diagnóstico é que custa caro.
O diagnóstico é que custa caro.
Então cai por terra o argumento econômico: A retirada do médico do atendimento não é por impacto financeiro negativo, e sim para aumentar os lucros da indústria da saúde. Portanto não estamos querendo nos adaptar a esses "novos tempos" pois existe uma tarefa básica que os médicos não podem delegar a ninguém, sob o risco de morte do cidadão: A tarefa do diagnóstico. Sem diagnóstico estaremos condenando a população à mortes evitáveis e o governo à falência pelos custos impagáveis do adoecimento coletivo pelas doenças evitáveis que progrediram pois a The Economist achou que médico não precisa atender pobre, ou melhor, não precisa fazer "tarefas simples". A questão se impõe: Quem está habilitado a dizer que tal enfermidade é benigna ou maligna? É o médico, e para isso, conforme ilustra o colunista, ele precisa estudar pelo menos 10 anos, e continuar estudando para sempre. Não é para qualquer um."
Nenhum comentário:
Postar um comentário