6 anos de faculdade, 3 anos de residência e 2 anos de pós-graduação. Nada disso adianta em matéria de saúde no Brasil, por aqui, deu errado, o culpado tem um nome: Médico. Desde residente - recém-formado - ele já entende que caso as cirurgias sejam suspensas por motivos alheios a sua vontade como: falta de instrumental cirúrgico e mesmo roupa de vestuário, é ele quem dará a satisfação ao paciente. Dando certo, os louros são da equipe "multiprofissional" - que o inclui. Dando errado, a culpa se chamava sempre por "médico". Isso fica claro quando se dá a notícia de um óbito.
Os médicos são acostumados portanto a assumirem grandes responsabilidades. Sabem que correr riscos faz parte da medicina. Assumir a culpa também. Infelizmente como se não bastasse o risco invariável e intransferível do ato médico, atualmente existe o risco jurídico-administrativo - um que não ensinaram tão bem nas faculdades. Fragilizado passou a ser presa fácil. Por exemplo, quando eu era residente pensava: "para quê me preocupar com folha de ponto se eu só posso sair quando terminar o que tem que ser terminado?" ou "para quê me preocupar com horário de almoço se ninguém pode me substituir durante ele?" ou "para quê me preocupar com carga horária se a qualquer momento caso o doente complique eu terei que ir de qualquer jeito?" ou "para quê me preocupar com riscos físicos, químicos e biológicos se precisa ser feito até amanhã?". De repente o mesmo povo que o fez trabalhar no limite em ocasiões especiais por várias noites cansado, faminto e sedento passa a querer cobrar a sua obrigação do "comum" - claro, mas quer ser tratado como especial. O médico precisa entender a todos, mas parece que não precisa ser entendido. Afinal, o médico não está preparado para o mundo moderno, o mundo moderno não se preparou para o médico?
Enquanto do lado de lá possuem 2 meses de férias por terem uma atividade "desgastante" demais. Enquanto recebem auxílio-paletó. Enquanto não podem ter os seus nomes mostrados pelo CNJ durante as investigações de seus "equívocos". Enquanto perpetram "deslizes" humanos, como um assassinato a sangue frio, e são condenados à aposentadoria integrais. Enquanto jamais se pode insinuar que errem em suas sentenças - se equivocam ocasionalmente por incompetência de quem não conseguiu provar o seu ponto de vista. Enquanto do lado de lá a consequência de um erro - tipo passar 20 anos na cadeia inocentemente - é do "Poder Judiciário", do lado de cá não existe o tal "Poder Médico". No caso, o erro deste lado tem nome, sobrenome, CFP, diploma de medicina e Incrição no CRM - aliás paira-me uma certa dúvida sobre a necessidade deste último com as últimas notícias. Ser médico de repente parece ser e estar errado até que se prove o contrário. Num ambulatório marcaram, ao invés das 15 habituais, 18. As 3 extras não serão atendidas por culpa do médico. No centro-cirurgico esqueceram de marcar a cirurgia... Certamente ela não acontecerá por culpa do médico até prove o contrário. Estes dias, durante um acidente automobilisto, o guarda de trânsito perguntará: "algum de vocês é médico para eu adiantando meu serviço?" Já prestaram atenção que, não importa qual profissional tenha se envolvido, o erro dentro de um hospital sempre é chamado de "erro médico". Pois é. Ser médico além de viver perigosamente, agora é chave de cadeia.
A enxurrada de médicos despreparados - faculdades explodindo alunos como pipocas brancas prontas para serem devoradas pela fome da mídia e como bananas amadurecidas no carbureto para alimentar a fome do "Pelo Social"; os baixíssimos salários - um motorista de ônibus ganhava mais que médico de Universidade Federal outro dia e um consulta era metade de um corte de cabelo; a submissão hierárquica e a falta de autonomia - outro dia um colega após atender 100 pessoas teve seu pedido de autorização - para sair 15 minutos mais cedo - negado pelo técnico de enfermangem chefe do posto que passou, por sinal, a tarde comendo goiabada e tomando café - dando aquele riso sádico de costume "haha! É bom demais mandar em médico"; o movimento do MPF - Médicos Pulem Fora - que persegue os doutores incansavelmente e estimula na população o denuncismo contra o médico sem qualquer preocupação em como ficará a localidade na ausência deste - outro dia um colega ausentou-se por 1 hora e 30 minutos no banheiro e teve uma queixa na delegacia; a estupidez da população - outro dia um sujeito que bebeu por 20 anos, fumou por 30 e nunca seguiu orientações médicas quis processar o seu médico porque atrasou 1 hora e meia no consultório; a banalidade do ato médico - o atestado médico tornou-se mercadoria banal de feira e tem menos solidez que palavra de meretriz - outro dia um empresa recebeu mais de 300 atestados na véspera do carnaval. A cultura do bode expiatório - se não tem vaga ou medicação, se tem fila e macas no corredor, pouco importa, tudo parece já ter um culpado. Ser médico é andar e descer no desfiladeiro para ajudar alguém sabendo que talvez não consiga voltar.
Mas quer queira ou nao cedo ou tarde todos precisarão de um medico em sua vida, e quando chega essa hora, vc ira querer o melhor, pra tocar seu corpo, ouvi-lo, tratar de suas mazelas...vc nao vai querer um com formação deficitária...isso e a hipocrisia que paira neste pais onde "isso serve pra vc, pra mim eu quero o melhor" que políticos e magistrados usam em suas sentenças, discurso e vidas.
ResponderExcluirE a culpa disto e dos próprios medicos e de seus representantes onde devido a cultura do "se eu estou bem, o resto que se dane", chegamos onde chegamos! Representantes de papel, empresários que querem só lucro, demanda, inveja da profissão e falta de atitude e organização dos trabalhadores medicos! Tem uma forca monstruosa se agissem em conjunto e de forma sincronizada, do contrario, sao abatidos com facilidade!
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