Em reportagem da Folha de hoje é abordado o impacto do aumento do gasto com o auxílio-doença. O tom da reportagem indica que o problema pode ser uma "frouxidão" do controle da concessão do auxílio doença. Por duas vezes, os entrevistados, incluindo um secretário do MPS, referem-se erroneamente à atuação da perícia médica como "fiscalização" e "controle":
"Os números passam a impressão de que pode ter ocorrido algum relaxamento nos controles", diz Giambiagi.
"Leonardo Rolim, secretário do Ministério da Previdência, diz que o crescimento no pagamento de auxílio-doença não preocupa, pois é acompanhado de aumento na base de contribuintes. Segundo Rolim (...)De 2000 a 2005, houve disparada na concessão do benefício, o que levou o governo a aumentar a fiscalização."
Um procurador vai além. Para ele, o aumento pode ser "fraude":
"O Ministério Público Federal do Rio, que integra força-tarefa de combate a fraudes previdenciárias, avalia que o aumento de concessões de auxílio-doença deve ser monitorado com atenção por técnicos da Previdência. "Pode ser [em razão de] greve, aumento de decisões judiciais, mas pode não ser nada disso. Pode ser fraude", afirma o procurador Carlos Alberto Aguiar."
Como assim controle e fiscalização? Isso compete aos auditores e fiscais da receita. O que houve foi uma vergonhosa terceirização de uma função pública essencial, que é a perícia médica, entre o final do governo FHC que foi mantida no início do governo Lula e que só se encerrou após uma longa greve dos peritos médicos, em 2003, e mesmo assim os terceirizados (que não tinham nenhum vínculo com o erário público e ganhavam por produtividade) só encerraram suas atividades em fevereiro de 2006.
No lugar de controle e fiscalização, por favor coloquem que o que houve foi a moralização do trabalho pericial com a contratação por concurso público de 3500 peritos entre 2005 e 2006 que receberam uma herança maldita de um passivo de milhões de benefícios irregulares e após muito trabalho e sofrer muita agressão, dois assassinatos, várias exonerações a pedido, desrespeito institucional e o total DESCASO do INSS para com a segurança dos seus servidores, a curva de concessão do auxílio-doença começou a normalizar, trazendo-a para perto da média internacional para países em desenvolvimento.
Mas ai vieram os oportunistas de plantão que estavam a perder a "teta do governo" e começaram uma imensa campanha difamatória contra os peritos, chamando-os de desumanos, despreparados, dentre outros. O próprio governo embarcou nessa difamação e passou a dizer mentiras sobre nós.
E o MPF, que deveria zelar pelo asseguramento do direito do cidadão que paga a previdência, passou a ter uma atuação quase que de política sindical, sem nenhuma fundamentação técnica e de claro cunho persecutório contra a perícia médica, exigindo o cumprimento de absurdas 18 a 24 perícias por dia ignorando solenemente os alertas dos servidores para a impropriedade de seu pedido e sua atuação. Até liminar na justiça conseguiram para voltar a terceirização dos peritos, que durou pouco tempo pois a mesma perdeu objeto esse ano.
Diante de tanto descaso do governo para com os peritos, de tanta pressão e massacre, e de pressões internas e externas para se executar uma carga impossível de trabalho médico sem prejuízo à qualidade do mesmo, me vêem com papo de "frouxidão do controle" e "fraude"?
Ora senhores, quem exige perícia de 20 minutos recebe uma perícia de 20 minutos. E não reclamem, pois o que está acontecendo não é fraude e nem frouxidão de controle, é simplesmente o resultado da pressão incessante do INSS e do MPF e da sociedade civil por perícias "humanizadas" de 20 em 20 minutos sem segurança, sem sistema de informática decente, sem estrutura, sem salubridade, sem respeito ao servidor perito e sem respeito ao trabalho pericial, pois como se não bastasse o cidadão pode recorrer quantas vezes quiser sobre a mesma matéria, sem limites, ridicularizando o trabalho do perito.
Como querer controle, fiscalização e qualidade no meio do caos? Sugiro aos repórteres da Folha, aos economistas entrevistados, ao nobre secretário do MPS e ao douto procurador que leiam este blog de cabo a rabo e irão entender facilmente o que anda acontecendo.
Para não dizer que não falei das flores, ano passado este blog já cantava a pedra...
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