O pungente relato a seguir é de autoria de um perito da Região I, intitulado pelo próprio de " O MEU AFASTAMENTO POR 2 ANOS!!!! DESCULPEM! " (originalmente redigido assim mesmo com todas as exclamações!). Infelizmente é o retrato paradigmático daquilo que se tornou a perícia em muitos rincões deste país.Certa vez um amigo disse-me: " Existem dois tipos de pessoas - aquelas que lidam com outras pessoas e as felizes.".Bem, levando ao extremo este corolário eu diria: existem dois tipos de pessoas - os peritos e os felizes.Infelizmente!
" Minha história na perícia médica do INSS se confunde com a histórias dos médicos peritos de todo o Brasil. Entrei no concurso de 2005( aos 29 anos), mas fui mandado para outra cidade, pedi exoneração. Passei novamente no concurso de 2006, agora fixo na minha cidade, onde permaneci desde então.
Sofri várias formas de agressão desde verbal até telefonemas com ameaças de morte. Como moro em cidade de 50mil habitantes, também sofri com a pressão social, perdendo amigos e sendo mal vistos por todos, tudo por causa deste trabalho.
De pessoa alegre e bem disposta, passei a ser introvertido e desanimado ... Nunca deixei de participar de todos os movimentos da Perícia Médica. Inclusive no último, fui o único a entrar em greve de toda a GEX de XXX XXX (mais de 60 peritos), sendo acompanhado por 8 colegas mais adiante. Na minha agência perdemos 2 dos 5 peritos (aposentadoria e exoneração), vislumbrando um quadro de sobrecarga de trabalho, onde foi necessário utilizar a autonomia médica para que chefes administrativos compreendessem que não somos máquinas de fazer perícias e elaborar pareceres.
Claro que gerou discórdia esta autonomia ( ainda mais sendo o único na Gex XXX XXX a exercê-la), e antes o elogiado perito, tornou-se um “demônio”. Iniciou-se um processo de assédio moral, primeiro escancarado ( até “reclamação de segurado” foi registrado com dados de atestado meu) e depois mais velado ( enxurrada de reclamações de “segurados” pelos mais débeis motivos, perseguição na agência a ponto de numa falta de energia uma das chefes precisar “ver” se eu estava na agência, ter conversa a sós com a Gerente da GEX). Como trabalho com outros 2 peritos de 4 hs (um a 6 meses da aposentadoria), com apenas 2 horas de intersecção do horário, permanecia outras 4 horas “sozinho” na APS, gerando uma insegurança jurídica muito grande.
Muito o INSS nos cobra, mas pouco nos oferece. Como deseja que enquadremos empresas ( as vezes até penalizando-as) no NTEP, se sabemos que as condições de trabalho na maioria destas são muito melhores que as nossas : mobiliário, temperatura, iluminação, níveis de ruído adequados, sem contar o nível de conflito constante em que vivemos. Já paramos para pensar nas conseqüências para o patrão se uma secretária é exposta a metade da violência a que o INSS nos expõe, e muito pouco faz para atenuá-la? Certamente a empresa seria “punida” com vários acidentes de trabalho bem caracterizados e respectivas indenizações.
Não há exemplo mais ridículo do que a questão da entrega da CREM(um papel) para exemplificar o descaso do INSS conosco. Já foi constatado e provado que a entrega deste documento pelo perito é de grande periculosidade, é o momento maior de risco da agressão, e o INSS não oferece uma solução definitiva para o assunto até hoje, posso supor por puro descaso e desprezo.
Hoje me pergunto : o que mais o INSS quer de mim? Sangue? A alma? Fui agredido, maltratado, xingado, violentado por todos, sem melhoria das condições de trabalho pelo patrão e com um salário que nem de longe é compatível com as obrigações e riscos da ocupação.
Suportei até o limite, e hoje, após adoecer e estar constantemente medicado, tenho o meu pedido de afastamento aceito.
Peço desculpas envergonhadas aos amigos peritos por não poder compartilhar da luta durante este período, neste momento importante de (des)União, onde meu último pilar ruiu : a ANMP!
Agradeço ao perito XXX XXX pelas orientações sempre certeiras e fico entristecido pela forma como a diretoria da ANMP nos tem tratado.
Mais uma vez peço desculpa a todos por não ter suportado a dor. "
Perito Dr. XXX XXX
Região I
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