terça-feira, 1 de março de 2011

"PARCIALIDADE" FORÇADA

Hoje à tarde fui ao fórum do trabalhador promovido pelo Ministério Público do Trabalho; Na composição da mesa havia um Perito do INSS, um Médico do CEREST, um Procurador do INSS e uma Procuradora do Trabalho. Todos guardavam em si o mesmo discurso. A necessidade de combater o capitalismo que lesava continuamente os cofres públicos e invalidava trabalhadores. O médico do CEREST falou sobre a necessidade do médico do INSS ver o segurado como “paciente” e colaborar para a Saúde do Trabalhador. A Procuradora do Trabalho foi taxativa sobre a necessidade do perito do INSS reconhecer os nexos técnicos e encaminhar denúncias de agravos ao trabalho a fim de poder punir os maus empresários no poder judiciário. O Procurador do INSS foi taxativo sobre a necessidade do trabalho dos peritos para defesa do INSS, a proteção do erário e das ações regressivas. Todos ratificaram a necessidade de reconhecer mais B91 para se punir mais empresários. Todos ratificaram a importância econômica trabalho da perícia médica. Que o empresário deixa todo ônus da sua omissão sobre a proteção do trabalhador para o INSS e nós éramos os responsáveis diretos pelo equilíbrio entre a despesa do governo e necessidade de se fazer justiça social.

Eu pude falar por alguns minutos no auditório e fui direto a mesa desmistificar alguns conceitos errados. Comecei meu pequeno discurso falando que não existia na medicina legal a visão do periciando como paciente. Citei inclusive Código de Ética Médica capítulo XI e falei sobre os pilares do ato pericial – universais – que seriam: o conhecimento profundo sobre o tema – o perito precisa dominar a matéria a qual se propõe -, a autonomia técnica e científica – o perito precisa ter acesso a todos os meios que achar necessário - e a impessoalidade – o perito precisa ser o mais imparcial possível entre as partes. Depois citei aquela máxima de que a “economia do erário” não deve ser função do perito médico. E fui mais longe, tampouco deve ser sua obsessão a “necessidade de buscar elementos para punir os empresários”. E disse: “O perito é mesmo um incompreendido”. No fim soltei aquela que deixou todos confusos: “O perito não deveria estar do lado do governo e nem do segurado!”. Alguns gostaram outros não.

Ora, de um lado procuradores querem peritos no seu trabalho para ganhar causas para o INSS. Pedem para que anotemos detalhes de justificativas a fim de “facilitar” seus acordos e cobranças na justiça. Eles solicitam um tipo de perícia “defensiva pró-instituição”. Acham excelentes que assistentes técnicos tenha trazido ótimas economias aos cofres públicos – no mesmo pensei no perigo que é ser “perito” pensando como “assistente técnico”. Do outro o MPT solicita uma postura “anti-empresarial”. Um tipo de perícia-denúncia voltada para combater os males dos grandes empresários sob o trabalhador. Sugere a fiscalização de ambientes de trabalho. Pede para o perito aumentar a quantidade de B91 porque somente assim poderão punir as grande empresas. Do outro lado o CEREST quer uma “visão social” do trabalho. Que os peritos sejam humanos e entendam as repercussões sociais das suas decisões. Que levem em conta o Mercado de Trabalho e interajam com os sindicatos dos trabalhadores. Todos querem o Perito do INSS por perito. Pena que para seus próprios interesses.

Para dar a minha alfinetada final fiz apenas uma pergunta aos três. Perguntei o fizeram pela perícia médica. Simples assim. Não entenderam. Citei um exemplo. “tenho a certeza que todos os Senhores Doutores leram as recomendações e determinações do Relatório do TCU de 2010 sobre auxilio doença que na pagina 88 (tinha decorado) no inciso IV fala sobre a urgência da ações voltadas para a reabilitação profissional. E termina por dar um prazo de 90 dias para que o governo apresente um cronograma de ações para pessoal, estrutura, treinamento e estudos. E depois citei que na APS NATAL 4 meses depois da publicação, 600 segurados haviam sido desligados por “impossibilidade técnica” – lê-se incompetência da gestão. Silencio. Pediram o endereço eletrônico do documento para tomarem ciência.

Por fim cheguei a uma conclusão difícil de aceitar, mas a maioria dos peritos não sabe exatamente separar que NÃO DEVEM SER PARTE NA AVALIAÇÃO. Nenhum objetivo deve ter a atenção de qualquer profissional investido da Função de Perito diferente da BUSCA CONSTANTE PELA VERDADE. Querem fazer perícia PARA ECONOMIZAR O ERÁRIO, depois PARA FISCALIZAR E PUNIR EMPRESÁRIOS e depois PARA COLABORAR COM SAÚDE DO TRABALHADOR quando na verdade o trabalho pericial deveria ser blindado a qualquer interferência desta natureza. O ATO MÉDICO PERICIAL IMPARCIAL precisa ser resgatado com muito debate e estudo. O modelo atual é ultrapassado. O Perito do INSS parece ser pressionado para “facilitar” as deficiências de outros órgãos como Ministério do Trabalho, AGU, Receita Federal e MPT. É pressionado para envolver-se com as PARTES interessadas a fim de melhorar seus resultados e encobrir as suas deficiências seja para prejudicar o empresário, para defender o INSS ou para com questões de saúde do trabalhador quando na verdade precisa apenas ser o que é: Perito Médico. Tentam forçar um parcialidade completamente descabida.

6 comentários:

R disse...

Ainda bem que existem pessoas como vc para esclarecer o verdadeiro papel do perito. Parabéns.

Snowden disse...

a imparcialidade e a busca da verdade pelos meios que se fizer necessarios sao as premissas essenciais para O PERITO. Do resto, ser tendencioso nao é fazer perícia e nunca será. Agora a "thurma" nunca fez nada para melhorar a PERICIA do INSS. Cada um olha seu umbigo e esqueçe do PERITO.

H disse...

Muito triste e estranho toda essa deturpação das funções. O perito DEVE ser imparcial. Isso é o que se espera em uma sociedade honesta e juta. Sem a imparcialidade, quem confiará que a avaliação foi justa? Ora. Sem imparcialidade, qual o motivo da figura do perito e do juiz? Se tudo vai ser resolvido pela cabeça e coração, ideal político e filosofias pessoais? Isso é justiça? Não para mim. Justiça social é com o dinheiro do tesouro. Não com a apropriação indevida de quem poupou a vida inteira. Mesmo que obrigado compulsoriamente.

Unknown disse...

RESUMO DA ÓPERA

Unknown disse...

Meus cumprimentos pelo editorial. Faz lembrar os votos médicos. Nem taylorista, nem governista, nem fiscalista, nem trabalhista, nem coisa alguma do tipo. Apenas integridade médica. É o que deve se esperar da Perícia. Desafortunadamente, como em outras áreas da vida, integridade é ambição de poucos. Quem está de pé cuide que não caia.

Situacao humilhante. disse...

Estou passando por um problema de saúde e, depois de um atestado de 15 dias que dei a empresa, essa so aceitou meu atestado depois que fui atentida por um perito que veio de Sao Paulo (vivo em Salvador). Agora que tenho em maos o conteúdo do resultado dessa perícia me sinto completametne humilhada: as palavras que ele coloca no relatorio (sempre suguidas de SIC) me deixaram completamente desesperada, inclusive afirma la, situacoes que jamais se passou na empresa. Tudo isso para justificar a nao relacao do meu problema com o trabalho. Que devo fazer nesse caso? Quem eu devo procurar para denunciar um abuso desse?