domingo, 2 de janeiro de 2011

O NEO PELEGUISMO ENTRE NÓS


O NEO PELEGUISMO ENTRE NÓS

Desde a divisão da sociedade em classes, nos tempos mais remotos, no Egito e, durante a idade média com o feudalismo, a história do trabalho é marcada pela luta eterna: exploradores x explorados. Há relatos de que escravos usados para a construção de pirâmides recorreram à greve para conseguir mais pão e alho, base da alimentação da época. É, entretanto, no Capitalismo, que essa luta de classes atinge sua plenitude.

A primeira reação operária organizada aconteceu em 1811, na Inglaterra, quando trabalhadores seguidores de Ned Ludd iniciaram uma sequência de destruição das máquinas das fábricas onde trabalhavam, movimento esse que ficou conhecido como Ludismo.
O aparecimento do sindicalismo no sistema capitalista é datado do final do século XIX, quando, influenciados pelas idéias de Karl Marx e oprimidos por seus patrões exigindo cada vez mais produção, estudantes franceses simpatizantes dos trabalhadores, após o fracasso da comuna de Paris, organizaram-se nas primeiras câmaras sindicais e, em 1886, formaram o que podemos definir como a primeira Federação Sindical da história do Capitalismo. A partir de então, organizações sindicais surgem por todo o mundo, e com elas as primeiras grandes greves e campanhas antimilitaristas. Obviamente, essas organizações e movimentos não agradaram, em nada, os patrões e, preocupados com o controle desses levantes, Mussolini, na Itália fascista de 1927 e Getúlio Vargas, em 1930, editaram, respectivamente, a Carta Del Lavoro e a Lei de Sindicalização, documentos que, ao mesmo tempo que garantem conquistas sociais à população, determinam uma maior submissão do trabalho ao Capital, pois submetem os estatutos dos sindicatos ao Ministério do Trabalho.

É dessa época o surgimento do “pelego”, definido no Aurélio como: “pele de carneiro utilizada entre a cela e o couro do cavalo para que este se acostume a ser montado”, nesse momento da história, o termo, é usado para definir o líder sindical, indicado pelo patrão, com a função de amenizar os atritos entre as classes de trabalhadores e patrões e influenciar a visão dos trabalhadores, acostumando-os a serem “montados”. Pelego é o trabalhador egoísta que não se preocupa com nada nem ninguém que não seja suas próprias e momentâneas necessidades. É o trabalhador covarde que, escondendo-se atrás de desculpas esfarrapadas, não luta por seus direitos e aceita a imposição dos patrões e do sistema. Pelego é aquele trabalhador que não sabe o significado da palavra solidariedade e não pensa, sequer por um minuto, no interesse coletivo de seus irmãos classistas.

O peleguismo reinou durante décadas no Brasil até o ano de 1978 quando, após um longo processo de resistência durante a ditadura militar, sufocados pela crescente exploração por parte dos patrões, trabalhadores metalúrgicos do ABC paulista rompem a barreira da legalidade, expulsam os pelegos das lideranças sindicais e desencadeiam um vigoroso processo que revolucionaria profundamente a organização sindical e política brasileira. Contudo, infelizmente, eis que assistimos, novamente, ao ataque dos exploradores sobre os explorados nos últimos anos no Brasil. Desta vez, institucionalizando os sindicatos dentro do próprio aparelho do governo, estão conseguindo, pouco a pouco, anestesiar, neutralizar e despolitizar os sindicatos classistas.

Chamados agora de neo pelegos, os parceiros, associados do governo, tentam aproximar os trabalhadores de seus patrões, todos irmanados no mesmo interesse, como se fosse possível apagar e negar as classes sociais. Os neo pelegos, trabalhadores ligados aos patrões e postulantes de cargos sindicais, confundiram as características da liderança sindical e esqueceram-se da necessária postura de autonomia que deveriam manter em defesa dos direitos dos trabalhadores, como se não existisse mais o patrão e o trabalho.

Somente a militância crítica pode nos salvar do neo pelego. Ainda temos em nossa defesa a prerrogativa de escolher nossos representantes sindicais. É absolutamente necessária nessa hora a análise crítica de cada associado perante os postulantes ao cargo de nossa liderança sindical.
Afastaremos os neo pelegos com nosso voto.

“Prefiro morrer de pé a viver de joelhos” - Emílio Zapata

DR. JOSÉ OLIVEIRA COSTA FILHO
DELEGADO SUPLENTE GEX PRUDENTE - ANMP

2 comentários:

  1. Gostei muito. Infelizmente o neo peleguismo é uma realidade dentro da Pericia Medica. Alguns colegas quando chegam a simples cargos temporários literalmente esquecem da própria classe. Claro que este tema é conflituoso e será debatido por aqui noutro tempo oportuno.

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  2. É um tema que merece muita discussão Heltron, com certeza.

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