BRASIL - O PAÍS - SELEÇÃO

Inicio minha contribuição ao blog cavucando do fundo do baú dos idos de 05 de junho de 2006, época da penúltima Copa do mundo, um texto que eu escrevi e que nunca tinha tido intenção de publicar até o momento.Reproduzo-o na primeira parte da postagem e a seguir teço algumas considerações e analogias acerca da realidade pericial e laboral que nos cerca em nosso cotidiano hodierno.


Tempo de Copa do Mundo.É tempo em que o Brasil torna-se o melhor país do mundo?Futebol é apenas pretexto?Neste momento abre-se uma dicotomia surrealista na emoção de cada torcedor, porque torce-se pelo Time, e não pelo País.Ou será que, repentinamente, o brasileiro, que normalmente não é muito patriota ,é atacado de um mal que o faz ter atitudes construtivas em prol do bem comum ?A seleção é uma ferramenta engodosa que deixa transparecer para quem não é brasileiro a impressão de que se ama o Brasil, quando na verdade o que se ama é apenas o time canarinho.Já imaginou se o espírito que reúne tantas pessoas em torno de um bem maior - que é ver o time vencer - também existisse no cotidiano da vida real de cada um, no mundo político e social do país ? O Brasil seria disparadamente o melhor país do mundo, não só no futebol, mas na justiça social, na oferta de oportunidades dignas para cada um.Falta-nos o espírito de união , de corpo, de fraternidade para torcer para o Brasil vencer.Não aprendemos ainda a torcer pelo nosso país!

O futebol é apenas uma ilusão a mais, um momento de gozo egoísta, uma masturbação solitária com um monte de gente gritando em volta.Lamentavelmente, é o sonho de milhões de garotos, que vêm nisto a concretização de seu projeto de vida.É lamentável, paradoxalmente, porque é onde só chegam meia dúzia de pessoas, apesar de que na mente do jovem ou da criança este prêmio mais difícil do que ganhar na loteria pareça-lhe mais fácil de atingir do que ser bem sucedido em uma profissão que exija formação em nível superior, tal o fascínio que exerce o jogador de futebol em suas vidas.Se fôssemos capazes de ser despreendidos, solidários, de abdicar do nosso egoísmo em prol de algo maior em benefício de uma coletividade, seríamos o país dos sonhos de todos, e aí as bandeiras do país ficariam dependuradas das sacadas de nossas casas, as manifestações de patriotismo e de defesa da soberania nacional estariam estampadas no rosto e nas atitudes de cada cidadão diuturnamente. Mas, do jeito que está a coisa, teremos sorte se ainda a Seleção conseguir nos manter unidos por muito mais tempo neste breve momento de louco êxtase.

Engana-se quem pensa que torcemos para o Brasil.Não! Torcemos apenas para a Seleção! Nesta hora o país para, o país vira a própria Seleção.O certo seria a Seleção transformar-se no próprio país, seria torcer para um símbolo da força nacional, e não para algo que aniquilou o país , tomando suas forças, roubando sua identidade a fim de poder existir.Na Copa o Brasil não é o país do futebol.Na Copa o Brasil é o futebol!Toda a energia das ruas, da comunhão entre as pessoas , das buzinas, da algazarra, dos abraços entre desconhecidos está concentrada apenas naquele momento.Para o país vencer falta a consciência individual de que se deve mudar o esquema tático, porque temos grandes jogadores em todas as áreas da atividade humana.Sozinho ninguém vence a Copa.A salvação também não está em contratar o melhor técnico do mundo.Não existem salvadores da pátria.Se cada um não der seu passo ou passe , não chegaremos em lugar nenhum.Não adianta catimbar e nem segurar a bola.

O problema é que poucos querem ser os vencedores, poucos querem ser donos do troféu.Neste sentido o futebol pode dar-nos a lição de que a taça é nossa ( menos a Jules Rimet, é claro ), assim como o Brasil também poderia ser nosso.Na Copa o Brasil é sublimado, é morto e enterrado para dar espaço à Seleção.A Lei de Gérson conseguiria servir de exemplo para deixar famoso o grande jogador homônimo apenas fora dos gramados.Porque só se aplica ao Brasil país.Será que algum dia iremos, enfim, torcer pelo Brasil ?

Fazendo uma analogia com a nossa realidade pode-se dizer que um país só cresce se os líderes políticos forem dotados da humildade e ao mesmo tempo superioridade para reconhecer e estimular o talento e a autonomia profissional e técnica de cada servidor público, recompensando o esforço de quem lutou para se graduar e que também deveria ser reconhecido como um Trabalhador, e não escarniado e rotulado de elite como se isto fosse um problema; aliás, O problema que precisa ser eliminado para que o país, enfim, pudesse se desenvolver.

A elite que se escarneia não é a elite de fato.Elite é quem escarneia àqueles que designa equivocada, mas propositadamente de elite.Elite não precisa trabalhar.Apenas ordenar, normatizar e se apoderar.Até aí tudo bem, mas e quando quem manda não tem autoridade, só tem o poder político?E quando o poder político quer publicizar, com as mesmas armas propagandistas de Hitler, que a elite é um mal que precisa ser exterminado, somente porque trabalha, a fim de que quem não trabalha possa ter ao menos como sonhar em um dia também chegar a ser elite.E então a Elite de fato (aqueles da Elite que não trabalham ou distorcem a incumbência ética do mesmo e que talvez por isto mesmo não entendem ou não lhes convém entender o sacrifício de quem conseguiu um trabalho com dignidade) por pura incompetência ou recalque ou medo de imaginar o seu poder de Elite ser tomado pela pseudo-elite (providencialmente criada pela Elite real) ou apenas para ganhar votos mesmo (jogando para a platéia que insiste em manter incauta e inculta) convence a população miserável que a culpa de sua desgraça é daqueles a quem chama de elite e que, destarte, esta precisa ser destruída.

Será que o mal da Previdência Social no Brasil é a perícia técnica, qualificada, ética, compromissada com o ordenamento jurídico e a justiça social que se faz com o bem gastar, capacitada continuamente, com o pleno reconhecimento da autonomia em seu julgamento simplesmente porque ele é revestido de um conhecimento complexo que demandou anos e anos de suor e lágrimas, e às vezes sangue, e que, por tais razões, precisa ser aniquilada ou será que o mal do país é orquestrar a desqualificação profissional apenas pelos fins políticos da verdadeira Elite que joga para platéia e põe a culpa na pseudoelite pela iniqüidade social, escondendo-se, por conveniente, na incapacidade de encontrar e tomar verdadeiras decisões de fato transformadoras para distribuição da renda?

A verdadeira elite não é sempre aquela que lutou para se graduar ( e que nem sempre, diga-se de passagem, é oriunda de família abastada), suou para ler, refletir e entender o mundo por seu prisma profissional, e que deveria ser de fato reconhecida como elite pelo denodo, abnegação e elevação intelectivas e cognitivas; parece que hoje em dia uma parte da nossa Elite é apenas os que têm poder para fazer e desfazer, torcer e distorcer ao seu bel prazer, têm poder inclusive para difundir para a sociedade que não constitui a Elite o conceito de que elite é quem pensa, estuda e é ético.Ah...quem dera se fosse assim....e deveria!Mas esta Elite é a que tem o poder apenas pelo poder, é quem acredita que os fins justificam os meios, é quem teme que quem estuda, pensa e trabalha tome o seu lugar de verdadeira Elite sem nobreza, subserviente a interesses menores.Este é o desafio da Elite que precisamos ter para crescermos o país, a Elite que não mente, que assume seus próprios erros, que não coloca nos outros a culpa pelo que não quer ou não pode fazer por diversas razões, a Elite real deveria ser puramente técnica, aliás, a política deveria ser técnica e estimular os quadros técnicos em vez de destruí-los.Elite deveria ser sinônimo de Ética.

Por quê demonizar, amarrar, amordaçar, retirar a autonomia da perícia e culpá-la pela injustiça social ?Será que é exterminando e terceirizando a perícia que se fará a justiça social ? Não seria melhor e mais justo mudarem-se as leis que a perícia apenas procura seguir com ética e que são emanadas da Elite? ( faço aqui um parênteses para dizer que seria burrice e ofensa generalizar dizendo que toda a Elite - aquela com E maiúsculo – é corrupta ou subserviente ou sem caráter.É claro que não é esta a intenção.Em todas as classes e ramos de atividades humanas há aqueles que honram as suas atribuições, assim como, sem exceção, todas as profissões são dignas, mas nem sempre todos os profissionais as dignificam.Aqui eu quero referir-me somente a estes que não dignificam seus cargos, que não fazem o que devem fazer e que fazem o que não devem ou não podem fazer, mesmo estando cientes disto).Não seria melhor e mais justo explicar o papel verdadeiro da perícia à sociedade e diferenciar o que é Previdência e o que é Assistência Social?Às vezes não se tem interesse em perseguir o que é justo devido aos imensos efeitos colaterais que haveriam com esta atitude.Por quê não se estimula e não se valoriza o trabalho e o conhecimento técnico dos peritos e dos Assistentes Sociais dentro do INSS?

Por quê se insiste em manter de mãos atadas , em se atentar contra as determinações legais e os limites técnicos e científicos que pautam o agir de profissionais, em se ferir a liberdade e a autonomia da Perícia e do Serviço Social no INSS, impondo-se limites, barreiras e banalizando-se um trabalho que, intrinsecamente, é extremamente complexo porque lida com as mais básicas necessidades e sentimentos humanos em sua essência mais abstrata e intangível? Por quê se insiste em transformar o nosso trabalho em algo trivial, em linha de produção fordista cujo objetivo, insanamente, nunca cessa enquanto um novo veículo modelo mais básico não for produzido da forma mais rápida possível, ao invés de almejar como incessante e continuada meta construir um veículo cada vez de mais qualidade, com mais tecnologia, que demandasse mais conhecimento, estudos, suores, às vezes sangue, de quem vai produzi-lo?

A onda é menosprezar o trabalho de quem produz como se este fosse mero instrumento de uma engrenagem de produção em série, mas sem controle e busca por qualidade.Entretanto, às vezes esta banda menos nobre e mais recalcada da Elite - que somente chegou onde está por culpa nossa, que achávamos que política era coisa menor e menos importante, que não nos propusemos a ocupar os cargos daqueles que são da ala menos nobre da Elite a fim de saneá-la, que estávamos preocupados em ser honestos, em fazer o que era mais correto e justo e que, irônicamente, também sempre acreditamos no discurso que nos foi vendido de que éramos de fato a elite – pois bem, esta Elite não tem o menor interesse ou preocupação se o carro do povo saiu da linha de montagem defeituoso desde que, é claro, o seu veículo for produzido artesanalmente na BMW com os melhores recursos humanos e a melhor tecnologia disponível no mundo.

Por quê esta banda da Elite não pensa mais no país em vez de pensar em sua própria Seleção?Por quê a Elite quer incitar a raiva e o ódio da sociedade contra quem chama de elite, mas que não é? Por que é que esta Elite não toma uma atitude de despreendimento e almeja ser superior para ser a elite que pensa em vez de ser a Elite que apenas manda, às vezes sem pensar, às vezes contra as razões do pensamento e da lógica.?Por quê preferem o poder à autoridade?Por quê não almejam o Estado ao invés do Governo ou o presente e o futuro ao invés de somente o presente? Por quê não almejam o país ao invés da Seleção? Por quê não pensar no coletivo e no país em vez de pensar em si e na sua reeleição?Por quê não dar autonomia para o Serviço Social fazer justiça social de fato, dando mais poder à categoria não somente na hora da decisão pela concessão, mas também no acompanhamento do beneficiário a fim de torná-lo protagonista da sua história e inseri-lo na sociedade da melhor maneira possível de acordo com as peculiaridades e especificidades de cada caso e de cada contexto social?Por quê distribuir um quarto de salário de bolsa-Família ( que não daria para sobreviver uma família nem mesmo se esta fosse constituída por uma só pessoa) em vez de capacitar as pessoas a fim de que todos cresçam e se desenvolvam muito mais do que isto?

A resposta é uma só para todos estes questionamentos: a culpa é nossa!Afinal, é mais fácil encontrar uma resposta conveniente e dizer que a culpa de tudo isto é da perícia e dos servidores públicos alcunhados irônica e debochadamente de elite do que debruçar-se sobre os problemas e as soluções, encarar e ter ombridade de reconhecer que a situação não é tão simples assim e esclarecer à população sobre a verdade (Ah....”a verdade é tão preciosa que precisa ser escoltada por uma tropa de mentiras” como sempre nos ensina o nobre e bravo colega Heltron Israel citando Winston Churchill), esclarecer que a questão tem muitas variáveis, causas e meandros, que tem que montar estratégias e mexer com os interesses dos poderosos para que, no fim das contas, tudo acabe dando certo.É mais cômodo publicizar em cadeia nacional de que a culpa de tudo é dos peritos, oh, peritos cruéis, como ousam buscar incessantemente a verdade técnica-científica e legal !? Então, joga pedra nos peritos, malditos peritos!A culpa é nossa que somos povo porquanto aceitamos e nos conformamos com migalhas, que aceitamos calados ser um instrumento de uma engrenagem de montagem e não ecoamos nosso grito e nossas energias para exigir a mudança e para desfazer o status quo.A culpa é de quem ri e se diverte com alguém que achincalha e chama de ingratos uma classe de profissionais, demonizando-os para a sociedade como se estivesse em um circo dando o pão para quem se diverte assistindo-o e está feliz com a vida do jeito que ela é.

O que é mais importante para um país crescer é apenas produzir riquezas econômicas, ter recursos minerais e ter populações de bilhões de habitantes que trabalham em linha de montagem.Mas, para um país crescer e se desenvolver é preciso ter educação e ética, sendo que a ética é ainda mais importante do que a educação.Por quê será que a Suiça é tão desenvolvida se não tem água, não tem recursos minerais e tem uma população pequena? Nem o cacau que produz os melhores chocolates do mundo na Suiça é da Suiça.

Mas, e a Seleção de futebol da Suiça?Ninguém nunca ouviu dizer.Mas, e daí? A alemã não é e sempre foi destaque mundial? Sim! A diferença é que a Seleção alemã não aniquila e toma a identidade do seu país.Na Alemanha a Seleção é uma resultante e conseqüência do país, que não anda a reboque da mesma.

Qual o objetivo da banda menos nobre da verdadeira Elite, a que é destituída de ética e, às vezes, de educação ao transmitir factóides à imensa maioria da população, que é miserável e sem educação (de qualidade), mas não é sem ética, (em sua maioria) fazendo-os crer, mediante propaganda distorcida e enganosa, que a raiz do mal de todos os problemas são os peritos, que são educados (todos) e éticos (quero crer que, hoje, em sua imensa maioria), senão o de perpetuar-se no poder a qualquer custo, perpetuando a reboque a miséria, a falta de educação de qualidade, de direito à informação verdadeira, a cultura da Lei de Gérson e a idolatria ao vácuo da ética.E aí, sociedade ? Vão querer mudar as Leis para transformar o auxílio-doença em um benefício para ajudar a comprar medicação, para custear as viagens de TFD de pacientes que o SUS não tem competência para dar resolutividade e integralidade, transferindo o ônus do SUS para a Previdência, fundido SUS com Previdência; vão exigir mudança nas Leis para transformar ou fundir Previdência Social com Assistência Social, tornando tudo uma coisa só, não exigindo contribuição ou critérios às vezes excludentes para que haja um seguro e uma segurança social, assim como foi feito com o SUS em relação ao seguro-saúde de antigamente?Vão exigir mudança na legislação para fazer com que o bem jurídico segurado pela Previdência seja a Saúde ao invés da capacidade laborativa, justificando a terminologia auxílio-doença em vez de auxílio-incapacidade (que deveria ser a vigente hoje em dia)? Vão lutar para exigir que , enfim, assim, não haja mais distinção entre os três pilares da Seguridade Social?Talvez neste cenário os peritos poderiam merecer as ofensas que lhes são, muitas vezes, hoje dirigidas.Vão exigir treinamento, capacitação continuada, condições de trabalho e comprometimento do perito com o país ou continuarão preferindo a contratação de terceirizados que fazem perícia em seus próprios consultórios e ganhando por produtividade ? O que querem para o futuro do país: continuar assistindo pela televisão a Seleção de uma determinada ala da Elite perpetuar-se debochando de todos ou lutar para que o país inteiro seja a própria Seleção?