Os Peritos do INSS querem se libertar dos grilhões que os prendem a imagem de ineficientes, mas não vai ser fácil. A questão é que muita gente ganha com a INEFICIENCIA DO SISTEMA. Ela causa dependência e síndrome de abstinência coletiva. Ela contraria os interesses de gente poderosa. A perícia é a viga defeituosa que mantém o edifício em pé. O governo ameaçou ajeitar com alguns instrumentos de EFICIENCIA, mas recuou com os estalos da estrutura. Além de segurados mal intencionados que passam anos nos benefícios sem solução, há vários outros urubus envolvidos que são alimentados pelo retrabalho, a baixa qualidade e a falta de investimentos e cobranças, confiram:
Governo
O governo sempre ganhou muito com a ineficiência do sistema. Tanto que repete a terceirização. Acontece que ele sempre viu o benefício como um meio de distribuir de renda - está em todos os artigos sobre previdência social brasileira mesmo ande nos limites do legal. Até hoje se faz uma cerimônia para anunciar a data do recebimento do beneficio. Sabe-se que em milhares de município o dia do pagamento do INSS é o dia mais movimentado da cidade. Nas pequenas cidades a ineficiência do sistema era o trem da alegria. O Ministro Gabas mesmo teria se espantado sete anos atrás com os números de Sorocaba-SP com mais de 10% da população em auxilio doença. Uma fartura. Peritos eficientes em cidades pequenas sofrem muito. É que o salário do beneficio é altíssimo no meio rural comparado com cidade. Vem menos dinheiro. Recolhe-se menos imposto. Compra-se menos. Nestas cidades são comuns reuniões em câmaras municipais para notas de repúdio aos perítos que tentam subir nos degraus da qualidade. Ineficiente, o perito deixa o cidadão feliz. Nesta greve mesmo dezenas de segurados em meios jornalísticos falavam que não votariam na candidata Dilma porque a perícia estava sendo muito rigorosa. A perícia ineficiente agrega votos.
Administrativos:
Eu particularmente tenho muita curiosidade para saber em quem colocariam a culpa dos milhares de absurdos que são atribuídos aos médicos. Desde os indeferimentos administrativos que caem na conta da perícia diariamente, passando pela ineficiência do SABI até perda de documentos médicos do arquivo. O perito do INSS é o colete a prova de balas da Carreira do Seguro Social. A própria estatística é clara. 65% do atendimento estão com 12,5% dos servidores - Peritos Médicos - enquanto 35% das pessoas que procuram à previdência estão nas mãos de 87,5% dos servidores – administrativos.
Médicos Assistentes:
Infelizmente alguns colegas médicos – há dezenas de adjetivações - criaram uma verdadeira indústria de venda indireta de atestados médicos para seus pacientes. Uma espécie de venda indireta. Um tipo de consulta vinculante cujo único objetivo é a troca do pagamento do honorário em troca do recebimento do documento. Normalmente o segurado mal intencionado rodeia até que no final da consulta diz: “Sim, acabei de me lembrar que amanhã tenho perícia médica. Preciso de um atestado”. Com o tempo ficam mais diretos e não há qualquer relação: “O Senhor está sentindo algo?”. “Não doutor é que amanha é dia de perícia.” Pois é a perícia alimenta dezenas de consultórios médicos. Em conversas com alguns colegas ortopedistas há relatos curiosíssimos. Alguns dizem mesmo: “Olha Heltron, eu dou mesmo porque senão dá confusão no meu consultório e afasta a clientela. Aí fica difícil”. Os mais diretos dizem: “Eu dou atestado para todo mundo, afinal para quê servem vocês peritos?”.
Médicos Peritos Judiciais:
Infelizmente existem dezenas de colegas Peritos Judiciais que dependem da ineficiência do sistema. Outro dia encontrei-me com um ortopedista que trabalhei antes de ser perito do INSS. Sabendo que ele era Perito da Justiça perguntei: “Como vai o trabalho lá na justiça?”. Ele foi espontâneo: “Ótimo. Graças a vocês eu vou muito bem. Mudei até de apartamento. Continuem negando que o INSS é minha principal fonte pagadora.” Enquanto nós riamos. Pois é, se o INSS perder, é recebimento garantido. Se o segurado perder, o honorário é a “perder” de vista. Afora o prazer de fazer uma perícia de menos de 5 minutos e por vezes apenas olhar o laudo de uma RNM e ainda receber agradecimentos pelo excelente serviço. Se sair da linha é trocado rapidamente porque “está dificultando o MM. de fazer justiça social” – como um colega relatou ter ouvido noutro estado. Além das pressões dos advogados e segurados que pedem literalmente para colocarem um perito que não seja muito “exigente”. Outro dia um advogado teria conversado com um juiz sobre retirar um perito que estava muito rígido agindo “quase como um perito do INSS”.
Advogados:
Estes são os principais beneficiados com a desgraça alheia – é verdade que os médicos também o são em menor grau. Só para terem uma idéia há centenas deles que têm como especialidade a desqualificação da perícia para ganhar suas causas. Adoram colocar, mesmo sem ter estado presente e ter lido os laudos dos peritos, que a consulta demorou 5 minutos e sequer foram lidos os exames e atestados. Uma paralisação dos peritos acarreta muito prejuízo. Outro dia um advogado conhecido falou-me de um outro que teria aberto um escritório em frente ao INSS de (cidade). Era sucesso garantido. Ganhou muita grana até que mudaram o médico. O novo médico, que depois foi candidato a prefeito, era muito mais “atencioso” e “generoso” com segurados. Tanto que em poucos meses advogado foi obrigado a fechar o antes rentável escritório. Duvida? Eu não. Há dezenas de escritórios vizinhos ao INSS. Outros mesmo dentro. Já tive segurado que entrou no consultório da perícia relatando que um advogado estava colocando um cartão seu nas mãos de todos os segurados que estavam aguardando na ante-sala. Eles são como urubus esperando a carcaça para alimentar seus filhotes.
Sindicatos de Segurados
É clássica a historia de se pagar o sindicato para receber o benefício. Os seus diretores lucram demais. Um perito médico ineficiente vale sua reeleição e a simpatia da comunidade. Assim que entrei no INSS recebi uma ligação de uma Senhora que disse a telefonista ser minha “grande amiga”. Atendendo a ligação disse que era de um sindicato rural que queria fazer uma “parceria” porque nós, peritos novos, estaríamos dificultando o recebimento dos benefícios por incapacidade e que nunca tinham sido assim antes. Bem, não fui educado na resposta. Quanto menos eficiente, mais filiados e mais dinheiro e mais votos.
Os Próprios Peritos Médicos
Pois é. Pensando que esqueci? Nada disso. A ineficiência da perícia era rentável demais para alguns peritos mais antigos do INSS. Ganhavam muito tempo e dinheiro escrevendo muito pouco e atendendo muito rápido. Corriam para seus consultórios para ganhar um pouco mais. Eles tinham mais chances de viver um pouco melhor e mais. Nada de atritos de morte. Muito menos agressões físicas e pressão da sociedade – que sempre existiram na atividade. Se fossem credenciados nem se fala. Como deputados, retro alimentavam os próprios gordos salários. Quanto menos se resolviam casos e mais ineficientes, maiores os rendimentos. Tinham menos inimigos na cidade. A fila era o filé. Vistas grossas em milhares de DII e DID aposentavam por invalidez as senhoras de mais de 70 anos recém filiadas – hoje caso raro, mas cansei de ver data de incapacidade na “hora da perícia”. O laudo a desejar era um sucesso social todos gostavam e tiravam uma lasquinha do ciclo. O perito era bom assim: “somente para fazer pericias” como bem frisou o governo várias vezes.
A anarquia e confusão institucional favorece aos que usam a instutuição em benesse própria ou partidária. Se não fosse assim haveria ordem... Como existe na Receita Federal, p.ex.
ResponderExcluirCom a mesma e lúcida análise, certa vez panfletei os gerentes do país inteiro reunidos no hotel Nacional de Brasília. Meu texto se chamava: "INSS, por que não rasga a fantasia?"
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