terça-feira, 19 de outubro de 2010

“Nenhum de nós pode se salvar sozinho; ou nos perdemos de uma vez juntos, ou nos salvamos juntos.” (Garcin)


Quarta punição eterna: o inferno são os outros!

Segundo Sartre, a famosa frase denuncia duas situações interligadas. Primeiro, se dependemos unicamente dos julgamentos e das ações dos outros, abdicando de nossa liberdade essencial e intransferível, criamos nosso próprio inferno, queimamos na fornalha alimentada por nossos próprios medos, pela má-fé, pela incapacidade de autonomia. Os outros não são necessariamente os causadores do meu sofrimento. Eu mesmo faço do outro o carrasco de minha tortura. Em segundo lugar, a situação exposta na peça refere-se a pessoas mortas, a existências para sempre definidas e que se tornaram, desse modo, definitivas, imutáveis, fixas, congeladas como a estátua de bronze. Denuncia, portanto, aqueles que, ao negarem sua liberdade, preferem morrer em vida, como se pudessem coagular o sangue da existência. Estão mortos-vivos, penando no inferno ainda vivos. Para muitos, não é preciso morrer e muito menos sofrer a tortura dantesca para descer ao inferno...

Pior que tudo é saber que a condenação dos três personagens estende-se por toda a eternidade, mas o inferno sartreano é simbólico: somos homens e nossa condição humana é a liberdade. Negar tal fato é condenar-se voluntariamente ao inferno, sem haver o deus da absolvição e o demônio da tentação e da culpa. Em suma, não há desculpas, não há tábua da salvação. “Nenhum de nós pode se salvar sozinho; ou nos perdemos de uma vez juntos, ou nos salvamos juntos.” (Garcin)

Agradecimento ao Fernando Guimarães

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