Dia do Médico: saiba mais sobre a carreira dentro do serviço público
18/10/2010 09:43
Larissa Domingues - Do CorreioWeb
Aos olhos de grande parte da população, o ofício médico ainda é cercado pela idéia do glamour. Os salários altos e o status que a profissão trazem são determinantes para que essa visão permaneça no imaginário popular. Entretanto, as carreiras da saúde estão longe de serem sinônimos de alto padrão de vida. Os profissionais da área enfrentam longas jornadas de trabalho e ambientes laborais com infraestrutura precária, além de se submeterem diariamente a situações insalubres e de grande periculosidade.
Estatísticas do Conselho Federal de Medicina (CFM) indicam que atualmente existem mais de 357 mil médicos cadastrados no pais - só no Distrito Federal, este número é de 17.470 inscritos e de 9.766 em atividade. Grande parte destes profissionais são concursados, atuam como servidores públicos da União, dos estados e dos municípios. Apesar de todos os contratempos, vale a pena tentar uma vaga no funcionalismo?
Palavra do representante da classe
A saúde é direito de todos e um dever do Estado, como versa o artigo 196 da Constituição Federal. O Brasil conta hoje com cerca de 193 milhões de habitantes. De acordo com Cid Carvalhaes, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), mais de 160 milhões de pessoas no Brasil utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, são tratadas por quem foi admitido via concurso público.
Carvalhaes é médico aposentado como servidor e ainda atua na iniciativa privada. Para o representante da Fenam, não há grandes diferenças na atividade desempenhada por cada um dos setores, mas é claro que o Estado oferece oportunidades melhores. "O serviço privado é bem pior do que o público. A gente acaba penalizando o SUS, mas devemos analisar aspectos significativos para compreender esta contradição".
O presidente explica ainda que a dificuldade no acesso à saúde não acontece apenas nos hospitais do governo e que as condições de trabalho são precárias em ambos os setores. "No serviço público temos filas, deficiência no atendimento e no provimento de recursos humanos, por exemplo. Já no privado, os planos e seguros de saúde possuem várias restrições em relação aos procedimentos. Recentemente, saiu pesquisa mostrando que a insatisfação com as empresas era de 87%", argumenta. "O que a Fenam defende, e também outras entidades de âmbito nacional, é que se crie efetivamente uma política de saúde", complementa.
A remuneração, segundo Carvalhaes, também é maior no caso de pessoas concursadas com cargas de 20 horas semanais. A Lei 3.999 de 1961 regula o salário mínimo para médicos e cirurgiões dentistas. Em 2007, foi realizada a atualização dos valores fundamentais - de cerca de R$ 7 mil para R$ 8.595. Também existe o plano de cargos e salários, criado em 2009 pela Fenam, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB) - com auxílio da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Tramita no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição que pretende equiparar os salários de médicos aos de juízes e procuradores - cerca de 17 mil com uma jornada de 40 horas por semana de trabalho. De autoria dos deputados Ronaldo Caiado (DEM/GO) e Eleuses Paiva (DEM/SP), as matérias já foram aprovadas em diversas comissões, mas não há expectativa de que o assunto seja ponderado ainda nesta legislatura.
Apesar de todos os contratempos, a profissão é gratificante. "O acolhimento da população em relação ao médico é muito bom, é efetivamente carinhoso e aconchegante. Tanto é verdade que as duas últimas pesquisas feitas pelo Ibope mostram que a Medicina é a profissão mais respeitada e que os médicos são os personagens mais confiáveis da sociedade, com uma resposta de 83%", explana o presidente.
Palavra do concursado
Marcus Vinicius Maciel, de 37 anos, vive entre o serviço público e a iniciativa privada. Formou-se em Medicina em 1996 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conta com diversas experiências nas duas áreas. Com especialização em Cardiologia e Medicina Intensiva, o concurseiro possui um currículo invejável: já foi aprovado em diversos processos seletivos estaduais e municipais no Rio de Janeiro e também na região Sul do país.
O médico largou o cargo público que mantinha em terras cariocas para trabalhar em Santa Catarina sem os benefícios do emprego estatal. "No Rio, fui funcionário público. Cheguei a assumir e trabalhar por um ano, mas a remuneração era tão baixa que acabei mudando para Florianópolis", conta Maciel. Apesar de estar fora do governo na capital catarinense, o médico aguarda convocação da Secretaria de Saúde e do Hospital Universitário da Federal do estado.
O profissional afirma que, após a posse, quer conciliar a vida de servidor público com a de médico particular. "Nós temos liberdade constitucional de acumular empregos. Médicos e professores têm essa exceção na justiça trabalhista, de poder trabalhar em mais de um lugar". Quando questionado sobre a maratona pesada de trabalho, Maciel demonstra determinação: "A vida nesta profissão em geral é pesada. A média é de 80 a 100 horas de trabalho por semana, mas eu já cheguei a fazer cerca de 120 por causa dos plantões noturnos", explica.
Ao contrário do presidente da Fenam, Maciel tende a preferir as atividades fora do governo. "As condições de trabalho em hospitais públicos são ruins, há falta de medicamentos e o nível de treinamento é outro. De uma forma geral, o serviço público tende a ser mais frustrante do que a iniciativa privada - que tem mais recursos". O médico também reclama, em forma de denúncia, dos vencimentos previstos pelo Estado. "Quando se paga a maior parte do salário em forma de gratificação, o governo está ludibriando as leis trabalhistas. Enquanto você está bem, recebe o valor normal. Mas quando fica doente ou envelhece, recebe pelo INSS só o que é assinado em carteira, o salário básico que muitas vezes é baixo", finaliza.
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