sábado, 4 de setembro de 2010

OS MÉDICOS E A DIGNIDADE DO SEU TRABALHO

OS MÉDICOS E A DIGNIDADE DO SEU TRABALHO


É com imensa tristeza que vejo os profissionais médicos no nosso país trabalhando em consultórios totalmente inadequados no SUS e serviços públicos da União, Estados e Municípios (contratados via CLT, Prestadores de Serviço ou como Servidores do Regime Jurídico Único e, pois, sem Plano de Cargos e Salários na grande maioria dos casos).
Também é com imensa tristeza que vejo a população brasileira (principalmente a classe média e os mais pobres) no nosso país a mercê de um atendimento médico totalmente incompatível com a enormidade de taxas e impostos que pagamos aos nossos governantes.
Por outro lado, a clientela em geral já se acostumou a entender uma Consulta Médica como um ato de, no máximo, dez ou vinte minutos quando muito. Como pode uma consulta durar tão pouco? Ou melhor, é possível que um médico faça uma avaliação de qualidade em tão curto espaço de tempo? Será a pessoa humana dotada de um organismo tão simples (coração, pulmões, emoções, história de vida, etc., etc.) que em meros vinte minutos terá seu diagnóstico e tratamento plenamente definido ou, talvez, numa consulta de cinco ou dez minutos e uma porção de exames complementares? Quem sabe se imagine serem os médicos criaturas dotadas de poderes mágicos ou nossa parafernália tecnológica tão perfeita a ponto de resolverem a contento os inúmeros problemas de saúde de toda uma população carente de quase tudo? O que aconteceu com a Medicina e os Médicos? O que fizeram com tão nobre profissão? O que estamos fazendo com nós mesmos, Médicos e Pacientes?
A questão da duração de uma consulta médica, por exemplo, já foi pacificada em diversos pareceres de vários Conselhos Regionais de Medicina: não há limite de tempo para uma consulta médica e fim. Muitos gestores alegam que a OMS recomenda uma consulta de vinte minutos!!??. Não faço idéia de onde tiraram tão esdrúxula informação! Nunca tive conhecimento de nenhum documento idôneo nesse sentido e mesmo se houvesse quem regulamenta legal, técnica e eticamente o modo como trabalhamos é o CFM/CRM e, acima de tudo, nossa consciência profissional. É simplesmente impossível determinar-se o tempo de duração correto de tão complexa atividade profissional. Nós médicos poderíamos até idealizar um Projeto para determinar um tempo médio mínimo necessário a um bom atendimento, todavia tal mister teria que se ater a um universo específico de profissionais de acordo com seus vínculos, perfis profissionais e população assistida. Pessoalmente, não penso que a OMS tenha feito algo assim. Estamos trabalhando um Projeto nesse sentido em nível de Previdência Social da nossa região.
Os Peritos Médicos Previdenciários mais uma vez saíram na vanguarda em busca da dignidade profissional quando iniciaram o Movimento pela Excelência do Ato Médico Pericial o qual entende que não existe tempo pré-determinado para uma avaliação médico-pericial. Cada caso tem a sua própria complexidade e cada profissional tem uma maior ou menor habilidade para concluí-lo e não pode ser pressionado para “acelerar” ou “reduzir” seu ritmo de trabalho sob pena de infração ética e responsabilidade legal por eventuais erros cometidos. Esse movimento também denuncia aos setores competentes (CFM/CRM, Vigilância Sanitária e Ministério Público Federal entre outros) todas as irregularidades porventura encontradas nos consultórios. E como temos problemas nesse sentido! Em nível nacional, temos desde a simples inexistência de consultórios para muitos Peritos como dos atuais existentes, muitos se encontram sem as mínimas condições de trabalho. Nesse caso, se prevê até interdição sempre em conformidade com as normas legais vigentes.
A continuar dessa forma, em breve não teremos mais Médicos no Brasil, apenas algumas ilhas de excelência profissional e um mar de profissionais médicos portadores das mais diversas doenças do trabalho e ninguém deseja se consultar com um médico doente que, às vezes, precisa de mais atenção médica que seu próprio paciente e fica escondendo isso dele mesmo e do seu próprio paciente! É isso que a população brasileira (nós incluídos, evidentemente) almeja?
Enfim, a classe médica como um todo precisa dar-se ao respeito: que todas as entidades médicas (Sindicatos, CFM/CRM, AMB, etc.) desde já iniciem um movimento conjunto em busca da Dignidade Profissional dos Médicos a exemplo de nós Peritos Médicos Previdenciários. Podem se mirar no movimento acima comentado dos Peritos Previdenciários. Também as entidades da sociedade em geral devem se movimentar em consonância com a ação daquelas, visto que a população merece um atendimento médico da melhor qualidade, independentemente do ser cliente de Plano de Saúde ou do Serviço Público. Isso este previsto na nossa Constituição. Não há o que se discutir.
Penso que unidos os Médicos e suas entidades de classe às instituições sociais, poderemos ter alguma esperança de melhoria a médio ou longo prazo.
Espero que todos reflitam bem e não se esqueçam de que não se pode transformar a Saúde e Previdência no Brasil sem que primeiro nos transformemos interiormente no objeto de nossa aspiração.


João Batista Firmino – Perito Médico Previdenciário – Mat.:0899446
CRM:2278/PB - João Pessoa - 25/10/2009

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