sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Caridade

Caridade. Essa palavra é constantemente atrelada a profissão médica. Em nome dela são feitos enormes sacrifícios pessoais dos profissionais da saúde todos os dias. Em nome da CARIDADE aceitamos trabalhar em condições de trabalho sub-humanas. Sem a infra-estrutura adequada. Com recursos humanos deficientes. Com a carga horária de trabalho duplicada, triplicada e até quadruplicada (já tive de ficar 72h de plantão porque não tinha rendeiro!!!). Com salários aviltantes. Apesar de tudo isso continuamos a exercer nosso trabalho da melhor forma possível. Fomos educados pra pensar e agir dessa forma. Tudo em nome do amor ao próximo, da caridade e compaixão. Aguentamos muitos anos assim.

Mas tudo possui limites. A situação fica a cada dia pior. Os salários mais baixos. As cobranças mais altas. O antigo bom trato da população desapareceu. Hoje em dia o que se vê são ameaças de processos de erro médico, intransigência e muita, mas muita impaciencia. Já não são mais os pacientes de antigamente. A classe está cansada. Quem irá nos defender? Quem irá olhar a situação pelo nosso prisma e perceber que médico não é santo. É um trabalhador como outro qualquer. Precisa de tempo pra descansar. Precisa de tempo para se dedicar a família e resolver problemas pessoais. Precisa pagar contas. Contas são pagas com dinheiro e não com boa intenção.

Parece que a sociedade se recusa a ver a realidade. Quando entramos em greve são inumeras críticas. Alegam que não temos corações. Que estamos descumprindo o juramento de hipócrates (Aliás o juramento sempre é usado contra nós, já perceberam???) . Que exercemos uma função essencial ao estado e não temos o direito de deixar milhões de trabalhadores desamparados.

Bem, somos sim uma função essencial do estado. E é exatamente por isso que merecemos também o bônus dessa situação. Só querem nos jogar o ônus e esquecem da lei da física que diz: a toda ação corresponde uma reação na mesma direção e em sentido inverso. Essa reação, o nosso Bônus simplesmente inexiste dentro da autarquia chamada INSS. Assim, não queremos fugir de nossas responsabilidades. Lidamos com grandes responsabilidades desde a adolescência, recém igressados na Universidade. O que queremos é o nosso reconhecimento, nossa autonomia. Remuneração digna e por subsídio. Ambiente de trabalho pacífico e harmonioso. Queremos condições para mantermos também nossa saúde mental. Queremos um departamento administrativo que trabalhe junto conosco na busca de um bem maior: proteger os recursos da Previdência Social. E não da forma que é hoje com desunião e eu diria até que em algumas situções contra os peritos.

Será que é pedir muito?

Um comentário:

Antonio disse...

Sandra,PARABÈNS !!!! Uma obra prima.Tb só ouço colegas reclamendo ,ninguém aguenta mais .Vejo colegas da época de escola que não estudavam repetiam de ano ,e eu lá já me preparando ,fora os duros e penosos anos de residÊncia e faculdade e eles aproveitando a vida,e quando achei que iria colher os frutos de tanta dedicação e após abrir mão de tantas coisas ,inclusive convívio com familiares que já se foram e ai pergunto ,valeu a pena ? Quanto meus colegas de escola fizeram essas faculdade de Direito de qq esquina e fizeram concursos com p/ PF para agente e gamnham mais que eu e trabalham menos .

Quanto a nossa situação no INSS não somos uma categorai >Temos peritos de mais de 20 anos de casa e os que vieram depois de 2005. Temos peritos de 20.30 e 40h ,logo eles não pensam igual e não querem as mesmas coisas,logo acho que o ideal seria negociar uma transição dando direito de escolha para os que já estão na ativa: 20 ou 40h com dedicação exclusiva ,subsídio para esta última ganhando mais que o dobro que as 20h ,pois a dedicação seria exclusiva e a partir dos novos concursos a decidir (melhor seria 40h com subsídio)